22 de dezembro de 2009

Até breve

Voo agora com meus pés no chão
Derretendo o gelo de calçadas no inverno
Ando sem rumo por caminhos tortos
Pulo buracos e tropeço em asas
Conquisto meu espaço sem punhais nas mãos
Sonho em paz com a magia da infância
Marco livros com páginas em branco
Refaço histórias com finais incompletos
Transbordo de ousadia em peles suadas
Tenho medo de olhos, gritos e toques
Mas me arrisco na surpresa do novo inconseqüente
O escuro nada mais é do que a minha coragem de olhos fechados
E meu impulso é o futuro promissor
Parto hoje com a certeza da volta
Deixo minha saudade nos olhos que me lêem
Agradeço as palavras e o apoio inesperados
Preciso abraçar minha essência distante
Meu sangue que escorre em terras estrangeiras
Um reencontro altamente confortante
Meu pedaço que se esconde no infinito
Renovo minha vida em contos de fadas
Guardem meu carinho
Voo pra longe
Mas volto em breve
Até.

(Lara Gay)

ps. Me ausentarei até o início de janeiro.
Deixo com vocês meu texto de despedida.
Um Feliz Natal e uma virada de ano repleta de paz e saúde para todos.
Muito obrigada pelas visitas e pelas palavras.
Até breve.
Minha irmã me espera com o Mickey!
;)

Lara Gay

19 de dezembro de 2009

Pendurei as minhas asas


Pendurei as minhas asas
Machucadas de voar
De tentar achar espaço
De bailar no seu cansaço

Pendurei as minhas asas
Desbotadas com seu beijo
Sem registros de outrora
Sem seu gosto que demora

Pendurei as minhas asas
Cansadas de covardia
Com a dor do seu adeus
Com calor dos braços teus

Pendurei as minhas asas
Perdidas no seu sopro
Fui sua rima no infinito
Fui o erro do conflito

Pendurei as minhas asas
Sem vergonha com certeza
Pé no chão e descalça
Por legítima defesa

(Lara Gay)

16 de dezembro de 2009

Devolva

Devolva minhas noites de sono
O sossego dos sonhos
Cerveja nos lábios
Alma roubada
Meu espaço vazio
Camisinha usada
Devolva o calor do meu corpo
Abrigo no porto
Pedaço de pão
Riso engasgado
Sabor do pecado
Meu seio em sua mão
Coração roubado
Devolva os berros da madrugada
Nascer do sol no Leblon
Sua roupa rasgada
A letra cantada
Minha calcinha molhada
Devolva o brilho dos olhos
Com gosto de sexo
O dia seguinte
Relógio atrasado
Tapa na cara
Gozo na cama
Nós dois no tapete
Uma parte esnobada
Devolva o cheiro da dama
Surpresa do encontro
Poesia bêbada no ouvido surdo
Contato extremo no colo mudo
Sua metade na minha implorando tudo
Devolva o azar do meu jogo
A sorte do dia
Vida bandida
Morte da cor
Meu ventre pelado
Migalhas de amor
Duvidosa certeza do errado
Acertando uma flecha perdida
Num alvo repetido desesperado
Devolva a asa do anjo
O peito pulsante
A gota de sangue
Respiração ofegante
Devolva a nota afinada
Esperança acabada
Linda rosa esmagada
Meu resto de nada

(Lara Gay)

12 de dezembro de 2009

Me conta?


Eis que surge um moço na madrugada
Transformando monotonia em poesia
Consertando minha asa quebrada
Levando tristeza
Deixando alegria
Contando uma nova piada
Surge um ogro encantado
Sapo de conto de fada
Grosseiro e desajeitado
Pedindo desculpas sem ter feito nada
Me conta historias
Revela memórias
Ilude esse ser com um pouco de paz
Rega minha flor que morre na escada
Alimenta uma noite de notas iguais
Espalha sorrisos no canto do olhar
Me permite a dúvida do seu andar
Fofo príncipe de meia tigela
Poeta apaixonado cheio de pecado
Abro minha porta e minha janela
Entra sem medo do inesperado
Me conta da vida
Me encontra perdida
Jogada no nada
Sem sono e calada
Veio sem pressa procurando abrigo
A alma é lenta, anjo
Dança comigo?!

(Lara Gay)

10 de dezembro de 2009

Autotortura


De manhã me sinto no buraco
Uma criança pedindo o colo da mãe
Chorando pelo leite derramado
Implorando a última bala
Quebrando o copo de propósito

De tarde me sinto vazia
Cheia de nuvens carregadas
Um temporal de gotas de sangue
Raios de desejos proibidos
Poças de lágrimas alheias

De noite me sinto sufocada
Livre pelo labirinto
Buscando a saída do nada
Batendo em paredes vizinhas
Recolhendo minhas partes no caminho

De madrugada me sinto sozinha
Eu, eu mesma e você
Sonhando com dedos na boca
Desejando seus traços na cama
Vivendo da morte do amor

(Lara Gay)

7 de dezembro de 2009

Leve


Às vezes o sol beija minha face dando boa noite
E eu sinto uma delicada sensação de plenitude
Misturada com uma pontada de saudade
Um cheiro de carência invade meu quarto
E a única coisa que peço é que a brisa me leve
Ou pesada ... mas me leve com você!

(Lara Gay)

2 de dezembro de 2009

Volte Sempre


Volte pra casa antes que minha vida escureça
Acenda minha luz e me ponha pra dormir
Volte com seu cheiro doce e seu riso envolvente
Com seu jeito desastrado de andar no meio fio
Volte antes que eu abrace o travesseiro
E antes que alguém ocupe minhas manhãs de meio dia
Volte com seu sotaque que me faz rir enquanto choro
E com toda a paz que você traz nas costas
Volte com nossos pedaços nas mãos
Remontemos uma história de amor e ódio
Sobrou tanto amanhã no nosso ontem destruído
Que talvez nosso presente seja mesmo um hoje de perdão
Volte sem pedras e com flores nos seus olhos
Traga o perfume da nossa dama da noite
Cubra nossas mágoas com beijos esquecidos
Volte pela escada
Aquela mesma
A cúmplice de nossos desastres noturnos
Volte com a voz que ecoava na janela
Mas com palavras doces sussurradas nas cobertas
Suas chaves na estante
Seu pijama sobre a cama
Nossos corpos quentes no chão frio
Volte pra antiga desordem de sentimentos
E pro desejo do fim do ponto final
Continuemos nossas linhas de lágrimas e sonhos
Marcando passos com sorrisos e alívios
Volte sem medo
Volte com vontade
Volte, combinado?
Volte sempre
Aqui é seu lugar

(Lara Gay)

28 de novembro de 2009

a Boneca e o Palhaço



Há anos atrás se conheceram por palcos da vida uma boneca e um palhaço
Talvez com a ajuda de um cupido, a boneca tenha sido flechada imediatamente
Não houve conquista
Houve um momento
Seus olhos admiraram aquela figura de sorriso aberto, fazendo graça pra qualquer um, conquistando mocinhas indefesas e divertindo rotinas banais
A boneca pintada de timidez observava de longe o palhaço
Cada cambalhota
Cada piada
Cada cantada
Cada flor dada
E pra boneca?
Nada
Se distanciaram pela lógica do circo
Se reencontraram por obra do acaso
O coração da boneca na boca e o sorriso do palhaço no rosto
E lá vem ele se aproximar dela como nunca feito antes
Pela primeira vez o palhaço tocou na boneca
E ela deixou ...
Foi dominada por uma leveza indecifrável, sinos em seus ouvidos surdos, um arrepio em sua pele de pano, um frio na barriga de algodão.
O circo passou
E lá se foi o palhaço novamente
Deixando a boneca com seus sonhos e sua espera
...
...
A imagem do palhaço ilumina os dias da boneca
A espera é gostosa
O doce nos lábios é constante
E como o destino sempre esteve entre eles
Eis mais um reencontro
Desejos insaciáveis
...
Dois reencontros
A cama molhada
...
Três reencontros
O nariz do palhaço no chão
...
Quatro reencontros
A saia da boneca rasgada
...
Cinco
Seis
Sete
...
E o destino sempre confundindo o circo que é o coração da boneca
...
Agora o palhaço está perto
E a boneca aflita na corda bamba esperando sua partida
...
A maior dor da boneca é saber que o palhaço nunca vai levá-la a sério


(Lara Gay)

24 de novembro de 2009

E ...


... E de repente eu me dou conta de que minha companheira constante é a solidão
Estou tão só que converso com minhas lembranças e meu silêncio
Remexo em sentimentos guardados e isso me causa uma alegre tortura
É quase um masoquismo
Um pouco de nostalgia com gotas de saudade num copo quente de lágrimas amargas
Nomes, fatos, cenas, músicas... um carrossel de pessoas e vozes que me deixa tonta
De onde vieram e pra onde foram todas as promessas esquecidas?
E os planos incoerentes?
Será que em algum momento tudo se concretiza?
De repente alguma coisa escapou das minhas mãos, e eu perdi o controle da situação
O que sempre dominei passa a me dominar e eu me sinto uma escrava de carinhos
Pretextos bobos
Pedidos impossíveis
A espera da volta do nada
Uma música incompleta com uma melodia desafinada
Me sinto assim
Uma tentativa fracassada de qualquer aventura inútil
Desafio meu passado com emoções reais e me contento com beijos de mentira em calçadas alagadas
Aonde eu fui parar?
Porquê eu parei?
Meu instinto sempre foi seguir por curvas perigosas e rir dos desastres no caminho
Me perder sempre foi interessante
E de repente me encontro desesperadamente desinteressada pela perdição que vivo querendo me achar num ponto final de um poema inacabado
Um paradoxo sem fim
Com final feliz?
Lembro quando tudo era meu... ou não!
De repente caio numa gargalhada e percebo a ilusão que tudo era
As lágrimas cessam nesse momento
Prefiro continuar onde estou
Mesmo sem saber onde é isso

(Lara Gay)

21 de novembro de 2009

uma planta em mim


"Existe uma planta que cresce em mim.
Nem senti sua chegada, nem percebi as raízes se firmando, não adubei a terra e nem pus semente alguma.
Surgiu.
De repente.
Se instalou em meu peito junto com o despertar da minha mocidade.
Acho que veio com um vento qualquer.
Talvez tenha entrado com a respiração de uma gargalhada.
De qualquer forma, chegou de fininho...
Dando berros na escola e estampando alegria no meio de uma face intelectual com cabelos lisos e um corte ultrapassado.
Uma figura um tanto quanto cômica.
Uma planta exótica entre tantos animais selvagens.
Um broto de vida querendo achar moradia em solos férteis.
Aceitei sua chegada.
A planta foi regada com lágrimas e suor.
Sobreviveu a temporais.
Foi descriminada por sua essência.
Perdeu algumas folhas em outonos secos.
Ganhou ramos mais fortes com a primavera.
Viu o nascer do sol de janelas abertas.
Sentiu as borboletas na barriga e toda a descoberta de perfumes excêntricos.
Viajamos, reconhecemos amigos, descobrimos pegadas e registramos momentos.
Já se passaram muitos anos desde sua chegada inesperada, e ela não para de crescer.
A planta ilumina minha rotina banal
Dá sentido aos meus passos tortos
Domina a fera que existe em mim
Alimenta uma alma com fome de vida
Cura as dores e comemora as vitórias
Não me reconheço mais sem o seu verde nos meus olhos.
Não existe caminhada sem sua companhia.
Existe uma planta em minha vida...
Que eu amo incondicionalmente.
Que eu protejo de punhos fechados.
Que dá sentido ao inexplicável.
Que não para de crescer.
... essa planta é o meu melhor amigo
E nossas raízes não se separam!"

(Lara Gay)


ps. preciso dizer que amanhã, dia 22/11, é aniversário da minha planta, do meu melhor amigo. e essa é minha pequena homenagem de "feliz aniversário".
agradeço cada dia dessa amizade e todo o cuidado de uma vida inteira.
sem ele eu não sou! te amo, andré!

16 de novembro de 2009

No seu bolso

Ele bate na porta
Mudando meu dia
Trazendo alegria
A surpresa estampada no rosto
Surpreendendo a lógica constante
A semelhança do meu oposto
Reações da pele num instante
Me pede uma mala e minha presença
Eu nego com um inexplicável medo
E questiono sem regras sua sentença
Mantendo meu desejo em segredo
Ele ressurge abraçando uma vida sem cor
Compondo músicas
Beijando uma flor
Me leve no seu bolso pra qualquer lugar
Eu só preciso respirar
Você me liberta da aflição do não ser
Da rotina pesada e da cobrança insuportável de viver
Me trague até o talo
E me beba por inteira
Me devore enquanto eu falo
Não peça nunca a saideira
Me deixe no seu bolso até o fim da solidão
Carregue meu corpo em sua canção
Eu sapateio em sua língua desconhecida
Você toca na minha alma ferida
Sua voz enquanto eu durmo
Um momento que demora
Me proteja por um segundo
Ao acordar eu vou embora

Prometo.

(Lara Gay)

13 de novembro de 2009

Procura-se ...


Uma vida simples
Um sorriso sincero
Um coração aberto
O brilho do olhar
Um sussurro no ouvido
O primeiro pedido
Uma canga e o luar
Um beijo de cinema
Um telefonema
Um par para dançar
Dois pombos na janela
Uma aquarela
Dois anéis e o altar
Desenhos no céu
Pegadas na areia
O gosto do mel
O canto da sereia
Um pijama rasgado
Todo azul do mar
No móvel um retrato
Uma história pra contar
A guerra de travesseiro
A briga pelo banheiro
O sono dividido
Um amante
Um amigo
Sua voz e um sim
O toque do amanhecer
O suor em mim
O desejo em você

(Lara Gay)

7 de novembro de 2009

De pés pro alto


"Nos esbarramos em ondas maiores que a razão
Demos as mãos pra não afundarmos na imensidão de todo aquele azul
Voamos sorrindo em um céu aberto com um destino inquieto
Seguimos lado a lado tentando entender o próximo passo
Tudo na nossa frente e tudo embaçado
Me afoguei em sua essência e me ceguei pros seus desastres
Abandonei uma certeza por me perder em seu encanto
No meu canto tão sozinha me encontrei nos seus braços
Prometemos o mundo numa bola de sabão
Reconhecemos o perigo na diferença dos instintos
Colhemos o fruto que regamos com lágrimas
Terminamos em cacos espalhados na areia
Nossos lírios secaram numa varanda fria
Perdemos pétalas que voaram na tempestade
E palavras que ficaram no fundo do poço
Em tempos de paz reconheço que te preciso
Aceito seu perdão que dorme no meu colo
Zelo teu sono acarinhando cicatrizes
Beijo sua face úmida de mágoas
Ponho a lua em seu caminho pra iluminar uma noite sombria
Te dou o silêncio do mar batendo nas pedras
Seu toque delicado
Seu confuso “eu” genial que se mata todo dia
O nascer da sua esperança
A flor que desabrocha
Eu bebo seu sofrimento
Me sufoco no seu caos
Ouço sua risada ecoar na escuridão
Me alivia o peito
Tudo tem seu tempo.
E agora a gente aguarda...
...
De pés pro alto esperando amanhecer"

(Lara Gay)

3 de novembro de 2009

História deles dois


Entre delírios se viram.
No meio de entorpecentes, bebidas, música alta, gente estranha, roupas rasgadas e toda aquela insanidade se conheceram
Corações disparados e arrepios indecentes... o famoso amor à primeira vista, que nunca acreditaram, estava invadindo aquelas duas vidas tão perdidas em becos sem saída.
Sentaram num canteiro e trocaram confidências e beijos até o sol nascer... a troca de telefones veio por último com sorrisos sinceros e olhos virados.
Partiram.
Se encontraram outras vezes entre filmes e festas.
Foram transformando rastros em pegadas e colorindo paisagens com momentos intermináveis.
Esqueceram antigas dores deixando pra trás toda a loucura que viviam até então.
Compartilharam a cama, dividiram amigos e famílias, aprenderam a respirar fundo juntos, disseram “sim!” com lágrimas de felicidade.
Suportaram brigas, enfrentaram dificuldades, deram as mãos e seguiram em frente.
Sentiram a sensação inexplicável de ouvir o primeiro choro do neném, de registrarem o primeiro passo e de ouvirem a primeira palavra.
Escreveram sua história com a simplicidade do dia a dia e a lealdade de cada noite.
Chegou ao fim.
Será que é fim?
Sem se saber o porquê.
Alguma coisa de repente mudou.
O brilho dos olhos se perdeu no beco sem saída que eles viviam antigamente.
Um detalhe acabou.
Ninguém nunca soube explicar.
Seguiram rumos diferentes, cada um levando consigo sua dor e sua parte.
E quem é capaz de dizer que não deu certo?
E quem tem a coragem de dizer que não foram felizes?
Se completaram e se preencheram pelo tempo que deviam.
Duas vidas, agora separadas, mas ainda ligadas por um passado, por um futuro, por uma alma, por um fruto.

... Por amor.


(Lara Gay)

29 de outubro de 2009

o Elo dos leões


Duas feras indomáveis.
Duas vidas entrelaçadas
Toda vez que ele se vai pra sempre, volta cinco minutos depois.
Um elo tentador que se recusa a se romper
O leonino se exibindo entre canções e aplausos
A leonina brilhando entre palcos e flashs
Um caso por acaso totalmente inacabado
Com cenas de cinema e drinks na madrugada
Com cazuza à meia noite e com suspiros à meia luz
Perdidos em bocas, pipocas e brinquedos
Achados em olhares, camas e tempos
O que move a leonina é o que acelera na surpresa de uma noite
A resposta em seus lábios da questão mais antiga
Seus olhos sorriem ao reconhecerem o som que faz falta na sua rotina
O leonino sempre tão poderoso derrubando o silêncio com seu rugido valente
Saboreando as palavras de olhos fechados
E surpreendendo amantes com gestos sensíveis
O encontro inesperado das feras
O calor incontrolável do lugar frio
O toque arrepiante
Os anos se passaram
As histórias mudaram
Mas parece que nada mudou
Duas feras entrelaçadas
Duas vidas indomáveis
O leonino vai embora, como sempre e pra sempre...
... Mas a leonina não se importa...
Afinal, ele volta cinco minutos depois.

(Lara Gay)

26 de outubro de 2009

a Marca de uma pata


te ofereço meu riso pra confortar seu pranto
e o barulho da chuva pra acalmar seu canto
todas as flores e o cheiro de mato molhado
o chocolate derretido e do mel um bocado
te protejo no meu colo vadio
entre noites e dias de solidão constante
aquecendo seus pés do frio
e tirando retratos da estante
ouço lamentos de um amor no fim
e em silêncio aceito sua certeza
guardo sua dor bem junto a mim
você revela a força no limite da fraqueza
ponho pétalas no seu primeiro passo
esperando a dança de uma alma em festa
um sorriso que ocupa o novo espaço
a liberdade em seus dedos se manifesta
o brilho de um ser abençoado
com um futuro esperando uma caminhada
romances num papel despedaçado
roupas e beijos numa esquina largada
sigo ao seu lado sem rumo sem placas
perdidas no encontro e de mãos dadas
te cubro de preces
te encho de cores
a marca de uma pata
entre amigas e amores

(Lara Gay)

23 de outubro de 2009

Como tatuagem


Com uma agulha e um pouco de tinta, surgem novos traços naquela pele.
Contornando curvas, amadurecendo linhas, transformando seres.
A leveza de seu voo abriu asas pra majestosa juba do rei
A nuvem dos sonhos se transformou na rosa azul da plenitude
Eis que surge um magnata por detrás daquele protetor
Um olhar sereno apesar de sua natureza ofensiva
O guarda-costas da Dorothy
A coragem personificada
O que antes era oração agora é guerra
A guerra da sobrevivência
A luta e as garras
Um sinal de mudança na menina
Ela virou mulher...
... E o anjo virou leão

(Lara Gay)

20 de outubro de 2009

um presente pra mim ...


menina das borboletas na barriga
que se joga, se arrisca
menina que é atriz, poetisa
no palco da vida, o centro é seu lugar...

menina que gosta de gente
que ama, defende
que dança, que sente
seu coração a saltitar...

menina que já não é mais menina
é mulher que ensina
com sua força leonina
o que é o mundo enfrentar...

menina cheia de histórias
menina cheia de glórias
menina cheia de futuro
e passado pra contar...

não diz quem a olha
que ela traz na memória
amores, dores e vitórias
que tanto ela tem a compartilhar...

sua gargalhada é sincera
uma risada tão dela
seus olhos são da alma a janela
onde debruça a verdade que quer acenar...

é dona de frases certeiras
que transmitem da mesma maneira
tudo o que por dentro dela há...

ela chega e o mundo pára pra ver
chegou a branca de neve
com sua presença amiga e alegre
que o ambiente até muda ao receber

(jullie - juliana vasconcelos)

17 de outubro de 2009

dia branco


num dia qualquer, desses que tudo parece cinza e triste, três vidas se esbarraram.
eram três balanços numa praça vazia.
eram três feições abatidas e sem esperança.
eram três meninas buscando alguma coisa.
o silêncio de um fim de tarde chuvoso misturado com o barulho enferrujado do vai e vem dos três balanços.
elas se entreolharam
uma moeda de um centavo caiu do bolso da saia de uma delas e as três começaram automaticamente a procurar a moedinha no meio da areia molhada da praça.
ficaram ali, por uns cinco minutos, cavando, remexendo, jogando areia pro alto...
não trocaram uma palavra sequer.
uma delas achou a moeda.
uma alegria infantil iluminou aquele espaço nublado e as três começaram a bater palmas. Riram... riram... riram... Riram muito alto e juntas, imundas, com os cabelos embaraçados e com areia até na boca.
a moeda tão esperada foi isolada no chafariz.
como numa brincadeira de pique, elas correram pra beirada pra ver aquele um centavo afundar junto com a suave garoa que caía no momento.
uma delas se debruçou o máximo que pôde, não queria perder nem um segundo daquela cena delicada de filme americano... se debruçou mais... e mais... a moedinha tava sumindo... e mais...
caiu na água!
as outras duas levaram um susto.
silêncio.
de repente surgiu a menina encharcada do chafariz jogando água pra todos os lados, com uma felicidade avassaladora...
todas pularam!
uma guerra amigável começou naquele chafariz...
eram sorrisos, berros, água e muita alegria se expandindo pela praça cinzenta naquele dia qualquer.
eram três filhas únicas.
acho que elas acharam o que estavam procurando.

(Lara Gay)

ps. foto por patricia lima

15 de outubro de 2009

Deixa ela ser.


deixa a cantora gritar
sua voz que invade palcos levando alegrias cantadas pra corações solitários
deixa ela pular vestida em cores fortes
ofuscando vistas alheias que procuram incontrolavelmente respostas pra passados e presentes
com rosas cintilantes, amarelos fuzilantes , verdes florescentes e vermelhos vívidos
deixa a cantora ser quem ela é
sua forma peculiar de andar no salto alto
o jeito meigo de menina inocente que esmaga gaviões na palma de sua mão
que engole insultos com uma fome de leoa
que mostra que chegou na pose fatal de ariana
deixa a cantora brincar de ser atriz
se arriscar em mil teatros
conquistar diversos públicos
ser a Alice, a branca e a gata borralheira
todas as mulheres que existem em sua delicada forma mutante
deixa a cantora guardar segredos
revelar sentimentos
fechar os olhos diante de gigantes e pequenos
deixa ela cantar no país das maravilhas
e aceite sua realidade encantada
a cantora se mostra completa a cada melodia
e conquista seu lugar a cada nota aguda
deixa ela ser...

(Lara Gay)

14 de outubro de 2009

Cansaço


O sol já nasceu.
E eu volto pra casa descabelada, com o salto na mão, meio bêbada e com o dinheiro contado.
Venho chutando latas e ouvindo sua voz em minha mente, lembrando dos seus movimentos no ritmo da música, do contratempo da sua risada e de cada detalhe novo que pude captar nas horas permitidas por mim mesma em discretos olhares.
Não podia perder nem um segundo da sua respiração ao meu lado, queria sentir seu cheiro o mais próximo possível, mesmo sendo impossível com a distância dos nossos corpos.
Tentei em vão disfarçar durante a noite toda, o pedaço de coração que pulsava em minhas mãos.
Tentei em vão disfarçar os arrepios que sentia só de você passar por mim.
Tentei em vão disfarçar minhas confusas respostas monossilábicas pras suas perguntas simples.
Um medo de te encarar e você perceber tudo que não digo na transparência do meu olhar... fixo... nos seus olhos...
Pego um copo e encho até a borda, levanto na pose e dou uma gargalhada pra fugir de sei lá o quê que me domina toda vez que você se aproxima.
Encontro funções e pretextos pra me movimentar o tempo todo na esperança idiota de não parecer nervosa.
Tropeço em sapatos, tapetes e desejos... tudo espalhado no meu caminho até você.
Chego cambaleando.
Culpa do álcool... me defendo.
Melhor ir embora, a noite já se foi.
Entro no elevador, me olho no espelho, descalça, meia calça rasgada, cansada...
... sento no chão e te sinto...
Como da primeira vez
Eu já te toquei um dia?
...
Quanto tempo ainda leva pra eu entrar na sua vida?

(Lara Gay)

13 de outubro de 2009

um desabafo inútil


de repente o mundo ficou tão hostil
tudo perdeu a cor
o dia chega e a vontade é de continuar dormindo
são longas horas de questões estranhas
nenhuma resposta
nenhuma pergunta
tudo nublado
sem graça
uma angústia me consumindo
e eu nem sei o motivo
uma sensação de vazio
aonde estão todos?
pra onde foram os anjos?
e cadê o chão?
minhas asas quebradas se cansaram de tantas tentativas inúteis
posso parar agora?
uma pausa para o nada
é isso que eu quero
deitar... e nada mais.

(Lara Gay)

11 de outubro de 2009

A Guria do Flash


Atrás daquela câmera existe um mistério
Olhos doces com um sorriso frágil
Perguntas intermináveis em gestos delicados
Um inexplicável mundo de luzes e imagens
Nada escapa de sua lente
Nada foge do seu domínio
A guria do flash invade a casa
Devora flores
Remexe em almas
Decifra línguas
Completa cores
São tons pastéis em ondas amareladas
São fascinantes olhares indecifráveis
Um anjo enigmático
Um touro delicado
Uma princesa voraz
A guria do flash deixa marcas no silêncio
Deixa a dúvida do seu tom
Ela passa discretamente levando encantos e registros
Suas pegadas na areia e o vazio no infinito
Procura-se negativos
Alguma pista de sua passagem
Uma metade de um instante
Suspiros de um retrato
Nada.
Nem sinal dos olhos dela por aqui

(Lara Gay)

8 de outubro de 2009

saudades de que?


saudades de um tempo que não é meu
de lugares que nunca conheci
de animais que nem sei que existem
da risada da velhinha que come pipoca sentada na praça debaixo do guarda sol
saudades da brisa batendo no rosto enquanto eu pesco
saudades do banho na cachoeira pelada
do canto daqueles pássaros exóticos
da felicidade explosiva da namorada que virou noiva
saudades daquelas saias rodadas
das botas e chapéus dos homens
de toda aquela estrada que nunca pisei
saudades da música de fundo
do tema do casal que flerta pela janela
do som dos passos pesados de dona maria
saudades daquele céu azul turquesa
da lua refletindo na água e iluminando a dança das sereias
de contar as estrelas deitada na grama
do berro agudo do silêncio noturno
saudades da criança correndo na chuva
dos pedaços daquela carta rasgada que não escrevi
do garoto jogando bola na lama
saudades de um passado que não me pertence
de uma parte escondida em mim que anseia pela simplicidade de cada dia
que deseja a liberdade do vento e a pausa do momento
saudades de um eu que nunca fui
mas sei que sempre serei mesmo não sendo no futuro.

(Lara Gay)

7 de outubro de 2009

O Diário de Pin


Eu já sinto os primeiros raios do sol me queimando o fuço
Sinto o cheiro de café quentinho e pão com manteiga do vizinho
Ouço o jornal deslizando na porta de entrada
E em cinco minutos sei que chega a empregada
Pego minha bola e levanto da caminha
Faço meu trajeto diário até a cozinha
Bebo minha água e como um pouco de ração
Ai... ai... mais um dia de cão!
Vou no quarto da mamãe dar uma leve espionada
Não entendo porque ela nunca ta acordada.
Dou um salto na cama e lhe dou uma lambida
Ela vira pro outro lado ignorando o meu chamado.
A chave entra na porta, eu começo minha sinfonia
Balanço o meu rabo dando o meu “bom dia”
Mamãe levanta com o barulho, eu me apresso pra brincar
Ela me faz uma festinha, eu mordo seu calcanhar
Coleira no pescoço
O vento no caminho
Damos voltas pela praia
Água de coco no copinho
Pombos se assustam quando ladro
E eu me sinto o rei leão
Um gato passa do meu lado
Corro feito um furacão
Ganho biscoito da velhinha da praça
Depois que sento e faço graça
A noite chega de repente junto com a brisa quente
Ajeito a juba na almofada
De barriga pra cima ganho carinho
Dou aquela espreguiçada
Tá na hora do soninho

(Lara Gay)

3 de outubro de 2009

Tô ?


Tô sem tempo para rimas
Tô sem vontade de brincar
Tô sem inspiração
Tô com histórias pra contar
Tô com partes no caminho
Tô com medos de criança
Tô sem pulso aqui dentro
Tô fervendo
Tô na dança
Tô querendo provocar
Tô no canto
Tô sem par
Tô alerta
Tô na vida
Tô forçando pra chorar
Tô no riso debochado
Tô com a malícia do meu lado
Tô contando cada passo
Tô no tempo
Tô no atraso
Tô perdida
Tô sem rumo
Tô tentando me encontrar
Tô querendo todo mundo
Tô sem cor
Tô com calor
Tô no chão
Tô pegando a contramão
Tô fugindo até de mim
Tô sem pista
Tô no fim

(Lara Gay)

28 de setembro de 2009

preta



lá vem a moça apaixonada dobrando a esquina da ilusão.

ela traz um sorriso no rosto e a esperança em sua mão.

nos seus olhos vejo luta e o desejo de um par.

seu passado tem muita mágoa mas seu futuro vem curar.

a moça baila em tons de roxo e vem sozinha no caminho

esbarra de moço em moço se entregando a cada passo

tenta outra melodia mas se perde no compasso.

ela bebe suas lágrimas enchendo o peito de amores

cambaleia sem rumo certo e se perde em suas dores.

a moça pulsa nela mesma procurando o que já tem.

ela é feita de muita vida mas busca isso em alguém.

uma dose de carinho e um gole de emoção

a preta segue de cabeça erguida

esperando a próxima estação.


(Lara Gay)

23 de setembro de 2009

pra você.


tanta palavra perdida
tanto sentimento engasgado
um nó
um laço
desfaço
desfeito
feito de alegrias e desejos
perdido na confusão do seu jeito
achado na ingenuidade do meu peito
flechado no seu alvo fugitivo
cansado na rotina do infinito
sua marca no meu corpo
meus passos na sua rua
ouço vozes no seu timbre
abro a porta nua
a regra que sempre fui
a verdade que não se quer
aceito sua negação
e o meu resto de mulher


(Lara Gay)

14 de setembro de 2009

nossa música 2

ok, de primeira mão pra vocês a segunda música que eu e michael fizemos juntos.
sem nome ainda...
=)


"palavras mudas / desculpas sem sentido
cortes fundos / pedaços de um amigo
e no seu toque / seu jeito tão frio
estou desnorteada / a procura de um abrigo
quando penso no fim / não me encontro em mim

Refrão:
quem é você? / e o que aconteceu?
não finja não saber / o que quer dizer
você tem o prazer / em quebrar corações de meninas como eu

e quando eu seguir / não olhe pra trás
você escolheu / agora tanto faz
no caminho que vem / vai ficar tudo bem"


(Lara Gay e Mike Knecht)


bem pop, né?
rs

10 de setembro de 2009

a visita


essa noite você me visitou.
ao me deparar com a sua imagem escondida pelos meus olhos saudosos, suei frio.
minha vontade foi de atravessar a rua como sempre, mas continuei e sentei na mesa ao seu lado.
observei suas expressões por um tempo.
uma mistura de amor e ódio tomou conta de mim e abracei firme meu cachorro com a intenção de aliviar a sensação.
você sorria muito ... mas eu não conseguia ouvir a melodia da sua risada.
será que já esqueci o seu som?
você me viu.
todos sumiram de repente.
eu não desviei o olhar.
você parou de sorrir.
por um segundo pensei que se levantaria e partiria, como de costume.
não. você ficou me olhando.
essa troca de olhares foi o suficiente pra acalmar minha alma.
uma troca de paz, carinho e perdão... em silêncio!
eu ouvi seu coração pulsar através dos seus olhos.
às vezes as palavras traduzem tão pouco o que realmente queremos dizer.
você sorriu de novo e disse “eu te esperei todo esse tempo!”
pegou meu cachorro no colo como se o conhecesse plenamente.
fez carinho em sua barriga.
pegou na minha mão e nos levou junto contigo.
nada mais foi dito.
seguimos nós três, juntos, num caminho deserto, cheio de árvores, pássaros e futuro.
um sonho lindo.

(Lara Gay)

31 de agosto de 2009

incógnita


de súbito arrisco umas palavras soltas
confusas entre lágrimas e soluços
um nó apertado na garganta
a vergonha da minha fraqueza.

assumo entre o álcool e a verdade
um sentimento proibido oculto
e com tantas dicas em tão pouco tempo
é necessário se perder pra se entender
pra me entender.

o que era tão evidente no silêncio
foi revelado com gritos engasgados
e a tua face assustada me olhando
como quem quer fugir desse leão indomado.

um leão tão covarde e ferido
que finge não sentir e não sonhar...


... nos abraçamos no escuro

meus sonhos são protegidos
tudo se cala
os olhos se fecham...

... e o dia chega
como se nada tivesse acontecido.


(Lara Gay)

24 de agosto de 2009

Encantos


"encantos tens que me dominam
de onde vêm e para onde vão
não faço idéia
és livre e ficas ainda mais bela nessa condição
sinto-te desde a primeira vez que te vi
dominas-me sem saber
quero-te em paz
pedestal e teu nome são duas palavras que vão muito bem juntas
tu brilhas e tua luz jamais se apagará
brilhas em mim e fazes-me brilhar."


(Michelly Barros)

9 de agosto de 2009

uma carta ao meu pai


hoje reviro baús, encontro postais, fotos amareladas, brinquedos velhos...
registros da nossa história tão ... nossa.

... você trocando minha fralda todo atolado
minha mão cabia na palma da sua
e você me segurava com muita força, um medo paterno de me deixar cair
seu sapato marrom de trabalhar rendia muitas risadas no meu pé tão miúdo
os enfeites da árvore de natal pendurados nos seus óculos e a minha risada ecoando pela sala
o mc donald´s das quartas feiras que eu sempre comia metade e te dava a outra
nossas corridas de bicicleta nas manhãs de domingo
era o momento mais esperado!
eu contava os dias pra te ver...
pra jogar peteca
pra ganhar de você no futebol de botão
pra perder na bolinha de gude
pra torcer pro vasco aos berros vestindo a camisa do botafogo em sua homenagem
pra ganhar mais um carrinho pra minha coleção
era tão bom ser o filho que você não tinha
eu gostava tanto de me sujar no parque
de rasgar meu short depois de levar um belo tombo no meio da rua... e você correndo pra me pegar no colo!
dormir com suas mãos fazendo um carinho meio desajeitado nos meus pés
brincar de ver o desenho das nuvens na estrada pra três rios
contar as estrelas no terraço da vovó antes de dormir
e acordar com os passarinhos na janela dando bom dia
chorar no seu colo com 7 anos pedindo pra você me prometer que eu nunca ia crescer, e você, sem jeito, tentando me explicar que não podia me prometer aquilo...
... eu cresci!
você realmente não podia me prometer o que não poderia cumprir.
em algum momento dessa história nós nos perdemos.
paramos de comemorar a presença do outro
brigamos por tudo... e por nada.
as inúmeras risadas viraram lágrimas complexas
minha mão escorregou da palma da sua
seu sapato ficou largado num canto
o meu herói ficou tão frágil de repente... ele passou a ser humano aos meus olhos
a bicicleta enferrujou
a peteca foi pro lixo
os carrinhos foram doados
meu short virou saia
eu aprendi a ser menina
minha rebeldia exigia sua presença
mas o filho que eu tentava ser tinha chegado ao mundo, e ele precisava tanto de você!!
só eu sei o quanto ele precisava de você... porquê no meu ciúme de não ser o que você queria, eu entendia que ele era!
... e eu precisei tanto de você nesse momento...
os anos se passaram, a menina virou mulher
um pouco sensível e um pouco fria
um pouco carente e um pouco independente
e ela tem tanto do seu herói de infância!!
hoje ela ri com o menino que nunca foi, cuida dele e o ama tanto que nem sabe demonstrar.
hoje o menino tem o mesmo herói que ela...
... e ela entende que o herói é humano, ele também tem suas fraquezas... e o ama ainda mais por perceber isso...
ela segue sua vida tentando resgatar o que se perdeu
com uma saudade imensa do moleque que existia dentro de mim... digo... dentro dela!

(Lara Gay)

30 de julho de 2009

se tudo pode acontecer...

... se pode acontecer qualquer coisa
um deserto florescer
uma nuvem cheia não chover

pode alguém aparecer
e acontecer de ser você
um cometa vir ao chão
um relâmpago na escuridão

e a gente caminhando de
mão dada de qualquer maneira
eu quero que esse momento
dure a vida inteira
e além da vida ainda
de manhã no outro dia
se for eu e você
se assim acontecer

se tudo pode acontecer..."

(arnaldo antunes)


20 de julho de 2009

tenho?


tenho em mim pedaços de amores, pedaços de pessoas, pedaços de canções
tenho em mim sentimentos incontroláveis
tenho medos e tenho desejos
tenho vontades que vem do nada e tenho um silêncio perturbador
tenho em mim palavras que não se libertam, sonhos que não se revelam
tenho histórias para rir, tenho histórias para chorar, tenho vida para contar
tenho cartas guardadas e fotos no baú
tenho cheiros inesquecíveis e rabiscos em cadernos
tenho em mim um mundo que não entendo
tenho amigos que cuidam de mim
tenho inimigos que falam o que querem
tenho amores incondicionais
tenho razões e tenho desculpas
tenho sons de risadas e lembranças gostosas
tenho abraços eternos

tenho momentos
tenho sangue
tenho alma
tenho arte
tenho tanta coisa que no fim me questiono se as tenho mesmo.
mesmo que eu não tenha o que tenho, que eu pelo menos me sinta completa no segundo em que as tenho... ou que acho que tenho.
tenho alegria.
isso é um fato!

(Lara Gay)

14 de julho de 2009

o vento.


... e um vento suave se aproxima
da minha rua
da minha janela
da minha noite
da minha cama
vem lento, doce, puro...
protege meus pés num toque angelical
com seu sopro bagunça meu cabelo
deixa seu perfume no travesseiro
o seu sussurro nos meus ouvidos
muda meus ares
me deixa leve
um vento suave que se mostra presente
que me conta histórias
que me olha ...
mudo ...
um silêncio ...
um silêncio que completa nossas palavras
que termina em carinho
em sono
em sonho
em nascer do sol
ele deixa o som de sua risada nas minhas paredes
ele deixa um brilho no olhar que andava escondido
ele deixa... e eu deixo...
e vai embora
absolutamente livre, como ele deve ser

(Lara Gay)

10 de julho de 2009

existe um mundo que eu não conheço...


... e ele cabe na palma da minha mão
na rima de uma canção
mas continua distante de mim
na dúvida eterna do não e do sim
escrevo frases soltas sem sentido
me confundo em ser e querer
não entendo o que sou num minuto
e no outro eu só quero você
me transformo em palavras
pra tentar te decifrar
me transformo em estrada
pra tentar te alcançar
não conheço seus passos
não conheço seu olhar
não entendo o que é isso
mas me deixa chegar...
existe um mundo que eu não conheço
e estou tentando conhecer
portas e janelas abertas
esperando amanhecer.

(Lara Gay)



2 de julho de 2009

eu te amo...

... mas quero viver sozinha
eu não te amo, mas preciso dormir com alguém
eu te amo, mas sonho em ter outros homens
eu não te amo, mas quero ter um filho
eu te amo, mas não posso prometer nada
eu não te amo, mas prefiro jantar acompanhada
eu te amo, mas preciso fazer uma viagem
eu não te amo, mas me cobram uma companhia
eu te amo, mas não sei amar
eu não te amo, mas queria.

(martha medeiros)

20 de junho de 2009

pode ser que seja assim

não é porque é minha amiga não, mas ela é boa demais!
merece a atenção de todos.
=)

essa é a minha música favorita da mô.
curtam. ouçam. adicionem.





"hoje eu acordei querendo gritar quem eu sou
te contar por onde andei, olha
faço mil perguntas pra me conhecer
será que você quer saber de mim?

quantas vezes eu tentei fugir
quantas vezes eu não disse nada
quantas vezes tive medo de tentar
disseram que eu preciso me encontrar
no dia em que eu soltar meu coração
pode ser que seja assim

...saber de mim
e o quanto dói ouvir você dizer que não,
não gosta assim,
só quero te mostrar uma canção
e você me dizer sim"

(monique kessous)

13 de junho de 2009

Branca de neve


me tornei uma pessoa fria.
aonde está aquela menina sonhadora de pés descalços que corria pelo play brincando de pique esconde?
acho que ela se escondeu no meio da realidade e não acha o caminho de volta pros seus sonhos.
aquela menina se permitia mergulhar no mar com ondas mesmo sem saber nadar.
ela arriscava o desconhecido, ela se entregava às paixões, ela sofria por amor...
aquela menina colecionava papéis de carta, agora ela coleciona cicatrizes.
seu mar não tem mais ondas, e ela fica parada na beirinha só observando o marasmo.
suas paixões são ocultas e seus amores são mentiras.
ela não pula mais corda, ela pula buracos.
ela não escreve poemas, ela escreve dores.
seu coração não acelera mais e suas pernas não tremem.
ela se tornou uma pessoa desconfiada.
aonde estão seus diários com corações e inicais?
aonde estão seus segredos mais íntimos e seus sonhos mais impossíveis?
aonde está a menina?
a branca de neve brincou de pique esconde fora dos contos de fadas e nunca mais achou a saída dos fatos reais.


(Lara Gay)

11 de junho de 2009

eu mereço!

eu divido a rua.
eu divido a cidade.
mas aqui é diferente.
aqui é meu lugar.
essa é a minha área.
essa é a minha zona.
aqui eu não preciso fazer nada...

... ou quase nada.

aqui não tenho inibições.
aqui respiro, penso, descanso e me entrego.
por um minuto ou por um dia inteiro,
entro em contato comigo mesma e relaxo.

eu mereço!

8 de junho de 2009

eu me perco...


... em encantos e desencantos, em melodias desafinadas e poemas rasgados.

eu me perco entre o sim e o não querendo um talvez inconstante e cruel.
sou uma pétala esmagada por suas mãos sangrentas.
sou sua risada salgada entre lágrimas doces.
suas? minhas?
o cheiro da dama da noite me envolve num sorriso discreto, de olhos fechados ...
quem eu sou?
quem eu fui?
eu me perco no espelho dos seus olhos.
eu me perco na história de nossas vidas.
sou uma dúvida eterna.
eu sou beijos de cinema e segredos no ouvido.
eu sinto frio... um frio que não passa.
mãos geladas, pés descalços.
me aqueça.
eu me perco no seu fogo e me apago no seu vento.
pra onde vou?
mais perdida que seus sentimentos eu me encontro nas lembranças.
eu me encontro nas palavras.
eu me perco na distância.
eu me perco na loucura.
eu me encontro... em cacos.

(Lara Gay)

25 de maio de 2009

um dia...


... acordei mais feliz.
nunca soube direito o motivo, mas percebi claramente uma mudança repentina em mim.
um dia aprendi a olhar nos olhos, a aceitar alguns fatos.
um dia me ensinaram que não interessa o quão o mundo seja duro comigo, eu tenho que seguir em frente.
um dia eu li ' eu te amo' em um olhar, um dia alguém se emocionou com minhas palavras e me incentivou a mostrá-las pro mundo, um dia percebi que não estava mais sozinha.
um dia ficaram tão feliz com minha vitória que fiquei na dúvida se a vitória era mesmo minha... ou sua!
vc me faz me sentir mais feliz a cada dia.
vc mudou a minha vida desde que me surpreendeu com um sorriso ingênuo, sincero... sem me conhecer!
talvez só hoje em dia eu perceba isso... a mudança repentina em mim.
vc é um anjo.
vc é meu anjo.
tava escrito nas estrelas...
eu amo vc!


(Lara Gay)

17 de maio de 2009

"eu venho de uma longa saudade...


... eu, a quem elogiam e adoram.
mas ninguém quer nada comigo.
meu fôlego de sete gatos amedontra os que poderiam vir.
com exceções de uns poucos, todos tem medo de mim como se eu mordesse"

(clarice lispector)


6 de maio de 2009

um paradoxo incontestável



"... é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa..."

(clarice lispector)


*foto por tayana dantas

17 de abril de 2009

Na rua


numa tarde fria me sinto quente, muito quente... tiro o casaco em meio a chuva e o suor me desce... frio...
prendo a respiração, salto do ônibus.
estou cara a cara com nosso ninho de amor.
a cada passo que dou, uma lembrança,
a cada som que escuto, sua risada,
a cada cheiro que sinto, seu perfume,
qualquer lado, todo lado, qualquer você, tudo eu... todo nós!
... na minha esquerda, uma dor... uma dor seis da manhã de um domingo, uma briga, lágrimas...
gritos!!
gritos na minha direita de uma terça feira qualquer uma da manhã por ciúmes.
começa a aumentar a chuva e cada gota tem gosto do nosso beijo ... do nosso beijo de cinema 5 da tarde de sábado no meio da praça... encharcados.
tanta saudade do que não vivemos, tanta dor pelo que fomos...
... tanta mágoa do que sobrou...
o que sobrou?
você seguindo com seu ego ferido, e eu caminhando com meu orgulho encontrado.
isso que somos hoje em dia.
pedaços de uma história mal contada por nós mesmos, trechos ditos com raiva da boca de amigos, fotos rasgadas embaixo da cama.
tanto amor, tanta vida, tantos desejos... tanta risada!
você lembra dessa parte?
ela existiu... eu tenho certeza... eu lembro.
não é possível que eu tenha enlouquecido tanto assim.
eu lembro!
hoje tudo isso não passa de uma caminhada meio alaranjada de cabeça baixa...
...
paro no sinal.
recoloco o casaco, um tanto quanto molhado.
olho para trás... respiro fundo!
vejo o vulto da nossa história ficando por aquela rua.
o sinal abriu.
olho pra frente e sigo adiante.


... com saudades de alguma coisa que não sei.


(Lara Gay)

15 de abril de 2009

Não ouse falar de mim!


suas palavras sempre tão cruéis e precipitadas que você ousa dirigir para qualquer um que cruze seu caminho.

seus atos tão egoístas e maléficos feitos com tanta convicção ferindo àqueles que você julga amar.
quem você é?
quem você pensa que é?
uma pessoa cada dia mais solitária, fechada num mundo de mentiras e farpas que você mesma criou.
você sabe quem eu sou?
você já ouviu a minha voz?
já viu meu sorriso?
já enxugou meu pranto?
já escutou minhas opiniões?
então não abra sua boca nem para citar meu nome.
se coloque no seu devido lugar e se olhe no espelho.
quem você tem na sua vida?
parou? olhou?

agora olhe ao meu redor...


...


...


...


depois disso, engula suas palavras, morda sua língua...
... e não ouse mais falar de mim!


(Lara Gay)

9 de abril de 2009

silêncio...


... preciso morrer.

já morri algumas vezes.

às vezes é preciso morrer pra viver...

ando com saudades de Deus!


(clarice lispector)


ps. foto por tayana dantas


24 de março de 2009

Meu maior companheiro


era um domingo de maio de 2008.
eu saí de casa cedo tomada por um impulso de que eu só voltaria quando encontrasse um companheiro.
queria um companheiro pra me preocupar, pra alimentar, pra educar, pra passear.
queria um companheiro que me prendesse em casa, que ocupasse meu tempo, meu coração... que me tornasse mais responsável, que me fizesse sorrir ao acordar, que tirasse meu sono com seu choro...
na certeza de uma leonina, voltei pra casa com ele!
cabia na palma da minha mão, nem se movia direito, cambaleava quando tentava andar... seus olhinhos tão pretos apenas acompanhavam a bolinha vermelha que ia na sua direção.
meus dias foram passando, e eu cada vez mais encantada por aquela criaturinha que me tirava do sério com xixis na sala e me enchia de mimos me lambendo pela manhã.
meus dias passaram a ser de nós dois.
minhas noites agora eram cuidadas.
aos poucos, ele aprendeu a andar, foi ficando mais claro, mais ágil, reconheceu o meu cheiro, identificava sua comida, brincava com a bolinha vermelha e roubava minhas meias sujas.
ganhou um super dente como melhor amigo, uma planta como padrinho e uma palhaça como madrinha.
cresceu, subiu no sofá, na cama... aprendeu a sentar, a morder, a latir!
ele agora me acompanha nas praias de domingo e nas viagens de feriados.
ele lambe minhas lágrimas e pula em cima de mim quando eu dou uma gargalhada.
ele tem ciúmes, ele me espera na porta, ele late quando saio do elevador, ele balança o rabo com velocidade quando giro a chave, ele chora quando demoro.
minha vida se preencheu de um tudo quando ela não significava mais nada.
passei a me amar mais, pois me senti amada.
agora sou protegida na rua por uma fera com cara de bicho preguiça.
agora eu penso por dois.
meus dias viraram nossos... e eu virei dele.
ele me deu forças.
ele me mudou.
e eu sou cada dia mais apaixonada.
eu nunca mais me senti sozinha, e a culpa é dele... toda dele!
meu maior companheiro.

(Lara Gay)


* foto tirada por mim

11 de março de 2009

ela!


tudo muda!

e eu não queria que "nós" mudássemos para "eu e você" apenas.
nós sempre tão unidas, sempre tão amigas, sempre confundindo as pessoas de quem era quem.
e agora?
e agora que tudo mudou?
como mudou?
você lembra?
eu me lembro de risos, de viagens, de segredos, de lágrimas, de descobertas, de pactos...
eu me lembro de nós.
o que somos agora?
corpos seguindo caminhos opostos, tentativas inúteis de sermos o que já não somos, rótulos do passado.
tudo muda!
e nós prometemos que mesmo que tudo mudasse, que nós crescêssemos, que nos separássemos, sempre seríamos duas em uma.
não ouço mais sua risada no elevador nem seus passos no corredor.
não atendo mais o telefone 4 da manhã pra escutar seu choro frio.
não reclamo mais dos finais de semana inúteis comendo pizza e vendo tv.
não minto mais pra sua mãe e nem dou bom dia pro seu pai.
não existem mais dúvidas de qual foto nossa fica na cabeceira.
não aumentou a nossa caixinha de cartas de escola.
não se toca mais no seu pijama rosa e branco e muito menos na sua escova de dentes.
nossas aventuras já são histórias repetitivas em mesas de bar, nossos códigos não passam de rabiscos em papel amarelo, nossos planos não incluem mais a outra.
parece que falta alguma coisa cada dia que acordo, parece que estou incompleta...

falta você.
faltamos nós.
tudo muda!
mas as lembranças do que fomos, o orgulho de tudo que passamos e o amor que sempre tivemos uma pela outra, me ergue todo dia e me incentiva a encher o peito de ar e falar sem dúvidas...
"ela é a minha melhor amiga, não importa o que aconteça".


(Lara Gay)


5 de março de 2009

pedaços de nós dois


palavras passadas lançadas ao vento
que perturbam o meu pensamento
palavras ditas com frieza
que mentem hoje meu sentimento.
de um passado tão presente

ouço súplicas de amor eterno
entre vícios e sussurros
entre gritos e desejos.
é o seu ódio que completa o meu amor
e o seu verde me conduz no seu olhar
me perdoo por pecar
te perdoo por te amar.
me visto de medo do que vivi
e de saudade do que não fomos
junto pedaços de nós dois
e remonto nossa solidão.
só você me foi mais que eu
de todos que amei em vão"


(Lara Gay)

27 de fevereiro de 2009

ela, a outra e eu


"uma é quase feliz porque lhe falta algo
sua beleza está no passado incrível cheia de amores impossíveis
ela não mede esforços para uma paixão de verão
escreve tudo à mão e durante a madrugada, pois é quando a sua alma grita pelo vazio constante
e o que sai é só diamante
sua risada é a mais gostosa, riso de bebê
os seus olhos brilham pois é sorrindo que ela se mostra inteira
é com as amigas que ela não tem medo
ela livre desse jeito
sua bagunça é a mais organizada, pois ela é terra, é virgem
ela é um anjo, tem asas, por isso pode voar quando quiser
sua piscina pode não ter a suave água, mas a gosma por que navega é de uma cor que brilha tanto quanto o sol refletindo no mar

a outra traz consigo a memória de todos os amores infinitos
do primeiro ficou a saudade e a certeza de que ele seria o seu par
do último ficou a mágoa de uma vida inteira, mas a lição de que tudo passa
ela é feliz nas coisas simples, nas pequenas descobertas
ela é feliz lendo Clarice
sua casa tem a sua cara, cada canto, cada caixa, tudo no seu devido lugar
ela é organizada
ela vive entre o que é e o que não se pode dizer
no seu papel deixa-nos ver a menina dos olhos grandes e da alma profunda
ela tem a humildade de quem reconhece que não se é auto-suficiente
essa é a beleza do seu reinado de leoa
o seu sorriso é centro de todas as atenções aonde quer que ela vá
sua boca é um chamado de beijos alheios
sua pele branca é um chamado constante
ela é brilhante

já eu sou ela e também a outra
trago a terra mas também Clarice
sou um leão alado
meu caminho é a correnteza das águas que passa pela pasta saborosa das dificuldades de ser na impossibilidade
olho para uma e vejo a minha alma refletida
olho para outra e vejo a minha coragem escondida
eu sou a desordem organizada
meu sol brilha porque trago a lua
e porque quando eu nasci era uma delas que no horizonte surgia
elas vivem em mim
quando penso nas possibilidades de encontros percebo que este já estava previsto
vejo o sucesso dos nossos planos
e um futuro com todas as formas possíveis
juntas
ela, a outra e eu 
"

(michelly barros)