Hoje é o primeiro dia sem ela.
Acordo pela metade.
Como se uma parte de mim continuasse dormindo.
Passei um mês me despedindo, e cada dia que passava a saudade já aumentava.
É possível isso?
Hoje me encontro nua com o coração na mão.
Descabelada observo o celular na esperança de sua chamada perdida de toda madrugada...
... Nada.
Pra quem vou retornar e dizer “Estava dormindo. Aconteceu alguma coisa?”
O café da manhã tá meio amargo e o fato de ser sábado não melhora meu dia.
Meu pensamento tá tão longe. Tá tão nela. Sou tão dela.
Me lembro como se fosse ontem: uma mesa de bar, muito barulho, muito álcool, poucos conhecidos, ela na minha frente, nossos sorrisos misturados, mentiras em menos de cinco minutos, cumplicidade em um olhar, telefones trocados, sua voz de “boa noite”.
Virou minha protetora. Aquela que me dá a bronca sem eu nem saber que fiz besteira.
A presença que sempre me acalma e a força que eu nunca tive.
Coragem é ela.
É agarrar o mundo como ela sempre fez. Como ela sempre faz.
Saio na rua sem sua voz me guiando e esbarro em lembranças pelo caminho.
O que será que minha bela está fazendo agora?
Quanto tempo ainda leva pras nossas vidas se cruzarem de novo?
Meu egoísmo quer chorar, mas engulo as lágrimas com a saudade me abraçando.
Hoje Nova Iorque está sorrindo.
E aqui, é apenas o meu primeiro dia sendo eu sem ser ela.
(Lara Gay)