31 de maio de 2010

Aconteceu você


É de repente mesmo, como dizem
O telefone não tocou
Aquela música também não
Não tiveram sinos ao longe
Muito menos câmera lenta
Nada de cartas
Nada de sonhos
Nada de nada
Quando percebi, ele já cuidava de mim
Nem sei dizer o motivo
Olhei pro lado e ele sorria
Nunca falou muito
Mas tava sempre ali
Segurando minha mão
Acalmando minha fúria
Enxugando minha lágrima
Me intrigou tanto aquela presença
Por quê tanto cuidado com uma fera sem destino?
Tentei algumas vezes, inconscientemente, fugir daqueles braços
Sempre tão independente
Nunca precisei repousar em portos seguros
Meu medo se encaixava na solidão da minha cama (de casal)
Jamais aceitaria um abrigo certo depois de tanto erro acumulado
E ele parado no mesmo lugar
Ali
Me olhando
Será que não se assustou com a intensidade dos rugidos?
Doente alma feminina repleta de sonhos
Incansável menino do olhar
Liberdade presa no peito de um estranho
Indecifrável calmaria numa contínua tempestade
De repente
Aconteceu você...
... e eu

(Lara Gay)

24 de maio de 2010

Ela e Ele


Nada mais havia entre eles
Ela precisou fechar aquela porta
Cheia de cicatrizes
Vazia de sentimentos
Não derramou uma lágrima sequer
Já estava seca de tanta dor
Segurou firme na mão de seu anjo
Sangrando em silêncio
Entendeu que não devia mais
Tinha se tornado escrava da sua própria vida
Crescente vício desde o início
Na abstinência de cada dia cinza
Ele continuava ali
Disfarçado de melodia
Vagando de canto em canto
Inquietando sorrisos em bocas estranhas
Já não mais se importava com a presença dela
Não passava de um passado presente incoerente
Guardava no fundo a dúvida de anos
Mas o ponto era final
Ela recolheu os seus versos espalhados
Apagou as tatuagens
Foi embora sorrindo
Engolindo o grito na garganta
Ele continuou sentado
No tumulto de ser o centro
Nem a viu partir
Não sentiu a sua ausência
Só ouviu alguma coisa
Um berro agudo no violão
Uma corda arrebentou

(Lara Gay)

17 de maio de 2010

Confusa(s)


A menina era confusa
Não entendia nada daquilo tudo
Preferia deixar a bela guiar seus passos
Já que seu caminho já era meio torto
Se sentia segura naquele sorriso
Sem motivo
Ia se perdendo naquela vida
Se encontrando na sua alma
A bela guardava a menina no colo
Protegia suas dores com a força de um olhar
Dava sentido pro sem sentido que tomava sua rotina
Ciumenta menina carente de abraço
Guardava sua angústia no silêncio de uma noite
Aguardava o sorriso pra cuidar daquele pranto
Ensurdecia na espera da bela voz que a acalmava
Dormia no vazio
Se preenchia ao acordar
Desculpas pelo que não se sabe explicar
“Cuida bem de mim”, pedia a menina
Só isso
Mas a bela era confusa
Não entendia nada daquilo tudo

(Lara Gay)

11 de maio de 2010

Mulher sem valor

Dói
Um pouco de nada sempre dói
Era cruel o que ela fazia consigo mesma
Ia ao limite do sentimento pra ter certeza se era real
Um monstro
Não entendia como alguém podia amá-la
Tão fria
Tão seca
Tão molhada
Jamais descobriu o que fascinou aquele rapaz
Nunca entendeu porque tantas noites em claro
Só pra acariciar os cachos dela
Só pra cuidar da sua insônia maldita
A voz dele acalmava sua angústia
Mulher intragável
Egoísta
Nunca entendeu nada
Cega pelo seu orgulho
Espelho sem reflexo
Muda de amar
A má por não mudar
Cala esse peito que chora sem parar
Ele é teu
Ninguém mais o quer
Agora vaga por aí
Segue seu rumo sem rumo
Sozinha
Ela pedia socorro em gritos entalados
Em berros descontrolados
Mas nunca soube expressar o que queria
Idiota exagerada
Engole seu pranto seco
Intensifica a sua calma na tempestade que te cai
Mulher sem valor
A culpa foi sua.

(Lara Gay)