Sentada em frente ao meu muro, cansada de tanto bloqueio, sinto frio na solidão de ser só eu... e o muro.
Levanto meio desnorteada e ando com meus pensamentos em volta da minha construção. Encontro falhas no caminho, brechas cicatrizadas, bichos e pessoas esmagados... aonde eu vou parar?
Paro!
Chego ao limite do meu reino, e ao lado do meu muro encontro ... nada!
Um nada tão limpo e claro que me dá vontade de construir mais!
Eu e minha obsessão de sempre.
Reúno tijolos e sentimentos nas minhas mãos calejadas, e me preparo com um sorriso no rosto, um nó na garganta e o suor da tristeza para aumentar minha proteção.
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Tentativa fracassada.
Sento em frente ao meu nada, ao lado do meu muro, cansada de tanto bloqueio, com frio da solidão de ser só eu... e nada.
Por minutos sinto aquela luz me aquecer, ouço vozes calmas ao longe, sinto a respiração da companhia do novo, fecho os olhos pra tudo.
Desisto.
Uso minhas velhas mãos calejadas para cavar.
Abro meu peito enquanto abro o buraco na terra.
Planto sementes que pretendo regar diariamente com lágrimas de felicidade.
Quero ver renascer a confiança perdida enquanto enterro meu egoísmo.
Quero ver crescer o que ainda há de doce em mim apesar do amargo que já engoli.
Quero ver o fruto do que pode ser belo apesar das feridas passadas.
Ao lado do meu muro estou dando um passo...
... é um risco que eu corro, mas depois de tanto tempo sentada, eu quero correr!
(Lara Gay)