25 de setembro de 2011

Ao lado do meu muro.

Sentada em frente ao meu muro, cansada de tanto bloqueio, sinto frio na solidão de ser só eu... e o muro.

Levanto meio desnorteada e ando com meus pensamentos em volta da minha construção. Encontro falhas no caminho, brechas cicatrizadas, bichos e pessoas esmagados... aonde eu vou parar?

Paro!

Chego ao limite do meu reino, e ao lado do meu muro encontro ... nada!

Um nada tão limpo e claro que me dá vontade de construir mais!

Eu e minha obsessão de sempre.

Reúno tijolos e sentimentos nas minhas mãos calejadas, e me preparo com um sorriso no rosto, um nó na garganta e o suor da tristeza para aumentar minha proteção.

....

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Tentativa fracassada.

Sento em frente ao meu nada, ao lado do meu muro, cansada de tanto bloqueio, com frio da solidão de ser só eu... e nada.

Por minutos sinto aquela luz me aquecer, ouço vozes calmas ao longe, sinto a respiração da companhia do novo, fecho os olhos pra tudo.

Desisto.

Uso minhas velhas mãos calejadas para cavar.

Abro meu peito enquanto abro o buraco na terra.

Planto sementes que pretendo regar diariamente com lágrimas de felicidade.

Quero ver renascer a confiança perdida enquanto enterro meu egoísmo.

Quero ver crescer o que ainda há de doce em mim apesar do amargo que já engoli.

Quero ver o fruto do que pode ser belo apesar das feridas passadas.

Ao lado do meu muro estou dando um passo...

... é um risco que eu corro, mas depois de tanto tempo sentada, eu quero correr!

(Lara Gay)


20 de setembro de 2011

um breve comentário sobre um sonho constante


Veio fazer o que no meu inconsciente?
Bagunçar o que tem sido organizado diariamente com um esforço incomum de quem vive de galho em galho?
Me diz...
Passou pelos sonhos sem sonhar em ficar na minha realidade.
Que ousadia da sua parte, garoto.
Me deixou com vontade de dormir a vida inteira
Para assim olhar nos seus olhos bem abertos enquanto os meus estão fechados para viver o que não é.
O que não somos.
Acordada, ouço sua voz na insônia que me carrega.
Dormindo, te abraço e sinto como se fosse nosso costume.
Acostumada com sua amizade me conformo em só sonhar ao seu som
Danço sozinha, conforme a sua música.

(Lara Gay)

6 de setembro de 2011

Era apenas uma menina...

Andava pelas ruas com um salto chamativo, tinha um sorriso angelical apaixonante emoldurado por mechas pretas de cabelos lisos, e uma delicadeza em cada gesto que escondia uma maldade opcional dentro de si.

Era apenas uma menina com seus 20 e poucos anos.

Quando a vi pela primeira vez era como se eu caminhasse lado a lado com uma esfinge. Tanto mistério naquela magreza que não consegui sair do labirinto que era a sua vida. Me instigava cada vez mais aquela passarinha da voz afinada. Como podia ser tão livre e santa? Aonde ela guardava seus pecados?

Era apenas uma menina com seus 20 e poucos passos.

Entrei pela porta da frente, completamente aberta pra mim. Invadi seus segredos mais íntimos com a delicadeza de convidada, e fui deixando meus rastros pra ela me achar sempre que quisesse proteção. Deu certo.

Aos poucos conheci o lado humano daquela diva. Entendi o que é sorrir em cima do salto enquanto a maquiagem disfarçava a cara inchada. Bati palmas pro seu passado e com um nó na garganta abracei sua fragilidade. Abri sua caixa de defeitos tão bem escondida que nem ela sabia que ainda tinha. Tão linda e pecadora que sua ingenuidade a tornava pura.

Era apenas uma menina com seus 20 e poucos sonhos.

Um deles bateu à minha porta numa noite ao lado dela. Me surpreendi com tanto sofrimento acumulado, com tanta angústia guardada em um corpo tão pequeno. Guerreira maquiada com um violão embaixo do braço.

Tirou o salto e a maquiagem pra dormir no meu chão, se fez lágrimas discretas com vergonha de cair. Tive vontade de secá-las e dizer pra passarinha que tanta liberdade também pode ser uma prisão, mas preferi ficar quietinha observando aquela dor tão doce que se encostava em meu colo.

Depois de um silêncio confortante entendi que ela só precisava de um carinho, de um toque, de um cuidado.

Era apenas uma menina com seus 20 e poucos medos da solidão.

(Lara Gay)