6 de março de 2013

Tudo Por um Popstar.


Assisti duas vezes ao musical “Tudo Por um Popstar”, inspirado no livro da maravilhosa Thalita Rebouças e com duas das maiores amigas que tenho na vida no elenco.

Na estreia meu coração palpitava de nervosismo por elas, eu suava frio por ser estreia e sabia o quanto aquele momento era importante na vida das minhas amigas. Cada pulsação delas era um pulsação minha e o medo de algum imprevisto me dominava por dominar as duas. Enfim, foi tudo lindo, mas não consegui me entregar à peça como deveria.

Fui assistir pela segunda vez tempos depois, dessa vez mais relaxada, afinal, o musical já virou um sucesso e as minhas amigas estão sendo muito elogiadas. Fui pra curtir, pra entrar na história, e acabei voltando à minha adolescência.

Eu já fiz tudo por um Popstar!

Voltei internamente ao Rock In Rio 2001, onde eu tinha 16 anos e fui porque era apaixonada pela boy band NSYNC.
Meu quarto era cheio de cartazes, eu tinha pastas completas com matérias dos meus ídolos, sabia todas as letras (mesmo não sabendo uma palavra de inglês), e pegava as coreografias na madrugada para me apresentar em shows de Cover (Sim, COVER). Sonhava noites e noites com eles e acordava chorando por não ser real, mas o sonho mais incrível eu nunca esqueci: Eu estava no play do meu prédio e o JC vinha conversar comigo (em Português, claro), dizendo que um amigão dele estava afim de mim, e apontava para o Justin que estava no balanço um pouco mais a frente da gente. O mais incrível é que eu e minha inocência de 16 anos não permitimos que Justin me beijasse tão fácil assim e, eu, com o coração na boca me fiz de difícil e disse para o JC que se o Justin quisesse mesmo ficar comigo era pra ele vir até mim e me pedir pessoalmente.

Hoje em dia dou gargalhadas eternas desse sonho!

Mas, voltando à realidade, lá estava eu, com roupa de malhar, tênis velho nos pés, cartazes e biscoitos na mochila, pegando ônibus da Tijuca para a Cidade do Rock com mais alguns amigos de infância umas 7 horas antes do show! Chegamos e, como qualquer carioca, fomos nos infiltrando até chegarmos à grade e, lá chegando, nos instalamos até a hora do show.

Éramos um grupo grande de amigos, e com o passar das horas o empurra-empurra foi aumentando e nos distanciamos da grade, mas nada e nem ninguém ia atrapalhar nosso objetivo. Então, eu e minha melhor amiga de infância decidimos nos perder de propósito para chegarmos mais perto.

Esperamos uma brecha de confusão e ...
- Ué, cadê Eliza e Lara, gente? – uma amiga berrou.
Olhamos em volta e já estava tudo cheio de gente novamente. Cochichamos felizes:
- Eliza, com certeza estamos muito na frente!! Vamos ver NSYNC de perto!! – eu comemorei.
- Eu sei, amiga. Tô nervosa. Me levanta pra ver se eu acho a galera lá atrás. – Eliza me respondeu.
No mesmo momento levantei minha amiga o máximo que pude e ela fez abinha com as mãos para enxergar mais longe por causa do sol.
- Não vejo nem sombra de ninguém, amiga. Estamos muito na frente!! – ela me contou com sorriso de orelha a orelha.
Dois segundos depois escutamos uma voz vindo de duas fileiras atrás da gente:
- Eliza, Lara!!! Estávamos procurando vocês, poxa... Que bom que achamos!!

¬¬

Sim, nossa grande saga de fugir tinha sido duas filas à frente e ainda respondemos com cara de idiota:
- Poxa, que bom que nos acharam, estávamos tensas.

Continuamos em grupo e ...
- Vai começar o NSYNC!!! Vai começar O NSYNC!!!

Começou!!
Lá estávamos nós vidradas, morrendo de sede e vontade de fazer xixi, mas muito, muito felizes por vermos as cabecinhas dos nossos ídolos no Palco Mundo.
Tentamos dançar as três primeiras músicas na esperança deles verem e nos chamarem no palco pra dançarmos com eles, mas, obviamente, fomos surradas pelos outros fãs que pediam espaço. Acabamos cedendo, mas 1,56m não ajudavam muito para vermos o topete do Chris, até que dois anjos mineiros imensos ofereceram seus ombros pra assistirmos ao show em cima deles. Topamos, claro, e nem precisamos saber os seus nomes, já tinham virado nossos melhores amigos.
- Eliza!! – eu berrei de cima do menino – Quero muito fazer xixi!!!
- Eu também, amiga! Mas segura! É o momento da nossa vida! – respondeu Eliza.
E nesse momento o Joey jogou seu lenço branco de enxugar o rosto e caiu exatamente nas mãos de um amigo nosso, na nossa frente!!

A emoção foi tanta que o xixi saiu. Sim, o xixi saiu bem em cima do anjo mineiro que estava cedendo seu ombro e sua força física para mim. Foi sem querer, gente, eu juro que foi!
Não contei nada pro menino, claro, e até hoje não sei se ele não sentiu, se fingiu que não sentiu ou se achou que era suor, sei lá... Me fiz de sonsa (e eu sabia muito bem me fazer de sonsa nessa idade).

Acabou o show e lá estávamos eu e Eliza com a cara roxa de tanto chorar, berrar e suar até que...
- Eliza, preciso te confessar uma coisa.
- O quê, Lara?
- Fiz xixi em cima do menino sem querer!
- Mentira!!!!!! Eu também!!!!!

oO

Que vergonha da gente, mas éramos as pessoas mais felizes do mundo porque, obviamente, roubamos o lenço branco do Joey que nosso amigo havia pegado, aparecemos no telão do Rock In Rio em cima dos mineiros e vimos os vultos do NSYNC no palco. (Sim, porque com a distância que estávamos é impossível dizer que vimos eles em si).

Voltamos às 6h dormindo no chão do ônibus 234, nossa roupa foi toda pro lixo, nosso tênis pra máquina de lavar e, como todos que foram ao RIR, tiramos melecas pretas do nariz no banho. (risos) Mas não importa, éramos as fãs mais felizes do mundo e ainda não acabaria aí, porque no dia seguinte passaríamos o dia todo em frente ao Hotel Intercontinental na esperança de vermos nossos ídolos pela janela do quarto... E vimos.

No final do musical “Tudo Por um Popstar” eu estava muito emocionada, arrepiada e chorava muito, porque concluí que é uma peça pra qualquer idade, é uma peça para quem viveu um amor assim, esse amor de fã que é um amor real e incondicional, esse amor desmedido que faz com que pessoas completamente distintas se juntem em prol de um mesmo alguém, esse amor que faz nascerem outros amores e que, esses novos amores, podem durar a vida inteira...
E quando eu for velhinha, estarei sentada numa cadeira de balanço contando aos meus netos tudo que eu fiz por um Popstar e, obviamente, a Eliza estará ao meu lado brigando comigo por eu contar do xixi, como eu sei que ela vai fazer ao ler esse texto.

(Lara Gay)





Está em Cartaz:
Teatro Imperator - Quintas às 19h
Teatro Clara Nunes - Terças às 20h / Sábados e Domingos às 16h