23 de abril de 2012

Mais um.

Lá estava a moça de pés descalços pagando seus pecados. Carregava uma garrafa de vodka em uma das mãos, um sorriso roubado no meio do rosto, e um pedaço de pão amassado caindo entre os dedos. Ouvia a trilha sonora da sua vida na sua mente que ainda mentia sobre histórias de amor e finais felizes. De bar em bar passava seus dias, de noite em noite calejava suas dores. Fugia de juras eternas e sempre engolia prazeres com nó na garganta. Fingia ser puta pra guardar sua dama. De tanto se dar se deu pra mais um que negando de cara seu corpo tatuado, despertou a menina da moça vadia escondida no rímel borrado. Não sentiu medo. Abrindo as portas sem abrir as pernas abriu caminhos para ser feliz. Dia após dia o mais um descobria mais um segredo da moça, e como quem veio pra cuidar, ele aceitava um passado condenado de bocas e vidas, de becos e vindas. A moça foi se sentindo amada mesmo sem compreender porque ganhara tanto amor do nada. Foi então, num impulso ingênuo, deixando o mais um a tomar por inteira sem dividir seu corpo com mais nenhum. (Lara Gay)