5 de fevereiro de 2013

Ps. Do latim metus.


Tenho sentido muitos medos, e isso me deixa com medo.

Quando eu era criança e subia no muro do meu condomínio, minha mãe dizia “desce daí, minha filha, você pode cair e se machucar!” Eu descia na hora. O medo que eu sentia me dominava tanto que eu acabava com ele em menos de um minuto. Resolvido.

Sentia pavor do escuro. Quando eu mudava de cômodo no apartamento durante a noite, eu corria pra acender uma luz, depois corria de volta pra apagar a outra, e por fim corria mais ainda pra sair da primeira escuridão e alcançar a luz que havia acendido. Ufa!! Dormia (e ainda durmo) com um abajur de lâmpada azul, afinal, o que de mal pode me acontecer se eu tenho um abajur aceso, não é?

Tinha muito tiroteio onde eu morava, e eu sentia tanto medo que eu me enrolava no lençol e me escondia no banheiro (agachada no chão, é claro, que nem nos filmes), acreditava que lá era mais seguro, lá o barulho era mais distante, lá tinha uma lâmpada pequenininha que ficava acesa o tempo inteiro, lá eu dormia coberta de medo e protegida de luz. No banheiro.

“Lara, vamos visitar sua tia!” dizia minha mãe feliz, e quando o carro estava chegando ao prédio da titia, eu fazia xixi nas calças só de saber que iríamos subir quase vinte andares. “Lanchinho na varanda!”, gritava a tia farofeira e feliz... Mas a Lara preferia lanchar na cozinha mesmo, muito mais seguro que ficar comendo olhando várias formiguinhas lá embaixo! “Ai não, tia, muito alto isso aqui, prefiro comer aqui dentro!”

É, sempre fui medrosa, e nunca tive vergonha de assumir isso, mas quando se é criança a gente sempre dá um jeito de se sentir protegida, de afugentar qualquer medo, de se refugiar no colo da mãe, do pai, da boneca...

Eu cresci e tô com medo.

Tenho sentido medo de não conseguir pagar as contas no final do mês.
Ps. Não tenho mais o meu porquinho azul de camurça pra me ajudar; ele já foi quebrado quando eu fiz 15 anos.

Tenho sentido medo de não assinar um contrato.
Ps. Aquele sonho de se sustentar fazendo o que eu amo já acordou faz tempo, e atuar como vendedora de loja no shopping não fazia parte do meu roteiro, mas como não posso mais postergar minha sobrevivência, tenho pensado em morrer um pouco.

Tenho sentido medo da solidão.
Ps. Meus pais já saíram de casa, os amigos já estão casando, os filhos já estão nascendo, minhas bonecas já foram doadas... Já sei! Vou plantar uma árvore!

Tenho sentido medo de perder a graça.
Ps. Sempre tive medo de palhaço, embora sempre tenha sido uma (em todos os sentidos da palavra), mas a vida tem sido tão amarga comigo que não tá sendo fácil rir no desespero (ou até mesmo rir do desespero!).

Tenho sentido medo de não ter mais coragem.
Ps. E isso é o que me dá mais medo.

(Lara Gay)