10 de dezembro de 2009

Autotortura


De manhã me sinto no buraco
Uma criança pedindo o colo da mãe
Chorando pelo leite derramado
Implorando a última bala
Quebrando o copo de propósito

De tarde me sinto vazia
Cheia de nuvens carregadas
Um temporal de gotas de sangue
Raios de desejos proibidos
Poças de lágrimas alheias

De noite me sinto sufocada
Livre pelo labirinto
Buscando a saída do nada
Batendo em paredes vizinhas
Recolhendo minhas partes no caminho

De madrugada me sinto sozinha
Eu, eu mesma e você
Sonhando com dedos na boca
Desejando seus traços na cama
Vivendo da morte do amor

(Lara Gay)

4 comentários:

Alonso Zerbinato disse...

De madrugada eu me sinto sem sono, faço piadas idiotas e rio de piadas mais idiotas ainda. Mas acho que sou mais feliz que durante o dia.

ANDRÉ PIMENTEL disse...

Não se torture. Não há busca sem encontro. Acredite. Beijo

Sara disse...

Que belo, e sincero...pura poesia...lindo...bom fim de semana...beijinho!!!

Juliana Lohmann disse...

"Mas não é só isso O dia também morre e é lindo"
E amanhã tem outro. E outro, e outro...

Deixa a porta entreaberta
Só quem quer pode entrar
Abre tua janela
Pra que tu possas olhar quem passas
Há luzes acesas não só em teu apartamento
O mundo brilha
Respira essa cidade viva
Essa quase noite escura
Contempla a matança
Olha pro céu e vê que
Até o dia sangra pra nascer...