23 de janeiro de 2013

Uma intrusa com Caetano.


Pisou tímida naquele chão.
Observou o verde das paredes e os verdes pendurados na varanda.
Entrou cabisbaixa no quarto. Tirou os sapatos, a mochila e a máscara.
Ficou tudo no sofá solitário que observa constantemente a vida alheia pela janela.
Queria mesmo arrancar todos os medos enraizados por dentro. Jogar fora pensamentos e se despir por inteira. Sem amarras, sem receios, sem regras...
... mas preferiu tirar apenas o que já tinha tirado e voltar para a serenidade da sala.
Ao som da madrugada (e de Caetano), foi se acomodando no novo espaço aberto para ela. Se esticou no sofá, abriu a geladeira (sentindo uma vontade imensa de abrir seu peito também), conheceu a descarga (que se apresentou educadamente) e riu sem controle tantas vezes, misturando seu timbre com o dele (não o de Caetano), que até esqueceu qual era o motivo real da graça.
Seus corpos se encaixavam como num quebra-cabeça, um jogo de suor que escorria limpando saudade e deixando rastros, gemidos de prazer eram a música ambiente, línguas perdidas, bocas com sede, cheiros novos, frases esboçadas, ritmo, ritmo, ritmo... e o gozo final com a resposta em sorrisos.
Observou-o em silêncio encharcada de prazer... Ahhh... se ele soubesse como ela já conhece cada detalhe de seu rosto...
Teve vontade de pedir para que ele segurasse sua mão, mas teve medo... (do medo dele)... porque mais que segurar sua mão, ela precisava mesmo é que ele nunca a soltasse.
Se sentiu menos estrangeira nessa terra tão vizinha. Mesmo assim pôs a roupa. Precisava se proteger de tanta felicidade.
E ela sabia que ao sair pela porta voltaria a ser apenas ela e seu medo (o dele?).
(...)

(Lara Gay)