2 de dezembro de 2012

Um sonho real.


De tanto sonhar, ela dormiu
E chorando sonhou
Com a realidade que não queria viver
Acordou num riso histérico
Se vendo, aos poucos, morrer

De tanto chorar, ela sorriu
E sonhando acordada chorou
Com a felicidade que queria viver
Dormiu num soluço profundo
Morrendo, aos poucos, sem ver.


(Lara Gay)

25 de outubro de 2012

Perceber ser.


Na imensidão de estar só
Sonhando em ser mais
Matando o que não vem
Quando só se quer ter
Alguém.
No vazio da multidão
Sendo um pouco menos que nada
Vivendo pro que não se tem
Quando se percebe ser
Ninguém.

(Lara Gay)

13 de agosto de 2012

O que não acontece.


Eu nunca entendi essas coisas que os pais falam quando somos crianças que precisamos planejar nossa vida. 
Bem, pelo menos meus pais me diziam isso. 
Mas mesmo sem entender, criei metas pra minha.
Eram mais ou menos assim:
Aos 23 anos eu conheceria o homem da minha vida, casaria aos 25 e aos 27 teria um casal de gêmeos. Aos 30 adotaria uma menina e, com certeza, já teria minha casa, um golden e um contrato fixo assinado com a Globo. Além de ter viajado o mundo todo, ter o carro do ano e ser magra.

Tenho 28 anos, moro sozinha com um shitzu, nunca fiz uma novela, já tive 3 "homens da minha vida", minha habilitação venceu em 2007, luto contra a balança todos os dias, conheço o mundo pela internet, trabalho no que aparece só pra me sustentar e fico no vermelho todo mês. 

Vez ou outra me lembro das minhas metas infantis e morro de rir, outras vezes me dá vontade de chorar e sinto pena dos meus sonhos mofados na memória... 
Em que momento me perdi na estrada das metas?
Em qual vida esbarrei que mudou a minha estrada?
Será que parei e não percebi? 
Pra não enlouquecer, crio metas novas, me alimento da minha humilde arte e não desejo mais o luxo de menina mimada.

E quando eu tiver um filho, se tiver, vou dizer pra ele que a meta mais importante a se traçar é abrir os olhos todos os dias.
O resto acontece... Ou não.

(Lara Gay)

25 de julho de 2012

O meu silêncio.


O meu silêncio é o acúmulo de palavras, por isso escrevo.
Digo tudo em nada mais que algumas linhas entaladas nas dobras dos dedos.
Meus fatos idiotas se transformam em contos de fadas cheios de heróis que criei pra fingir ser rainha, pra ser a bruxa quando eu quiser, pra ter o príncipe na minha cama, pra pecar sendo santa.
O lápis grita minha angústia, meus amores, meus amigos, as histórias que vivi, que vi, que criei. As que venci e não venci, as que doem e as que destroem.
Através do papel sou a dama e a vagabunda, finjo sentir e sinto, sou o que não sou e até me orgulho de não ser o que na verdade sou.
Só sei que posso tudo!
Posso tudo no meu papel em branco.
É aqui que borro o lápis de olho. Que vomito o álcool de ontem. Que rasgo o que não me serve.
E não me critique por não ser perfeita, por fazer minha arte em forma de d(r)ama.
Não tenho pretensão de mudar nada além de mim mesma com minhas palavras.
O que vem depois do ponto final é alívio.
E, como finalizaria o gênio William Shakespeare, O RESTO É SILÊNCIO.

(Lara Gay)

2 de julho de 2012

Tanto faz... ela me fez.


Quanto tempo é preciso pra se apaixonar?
Tanto faz...
Porque, com ela, foi no tempo de um olhar.
O seu sorriso me abraçou como um velho amigo que chegou.
Como quem esmaga a saudade do que não se viveu,
Mas aconteceu.
Afinidade...
Eu tive certeza que já conhecia seus traços
Seus passos já gastos dançando no meu caminho
Voando sem asa
Saindo de casa
Cantando carinho.
Doce morena que não vivo mais sem...
... você...
Que desperta em meu rosto
O prazer e o gosto
De querer ser alguém.

(Lara Gay)

18 de junho de 2012

Almas desertas.


De tanto te amar assim, nos confundimos dentro de nós. De você e de mim.
Por tempos que nos deram certeza da real grandeza do que nos une
Impune de egoísmo, vivemos nesse jogo entre o céu e o abismo,
Com medo de cair sem ter asas pra voltar
De encontrar o chão onde não se quer ficar.
Guardamos segredos, abraçamos conselhos, somos essa mistura de ciúme e ternura;
Uma corda na cintura que se estica quando lança, mas enrola quando cansa,
Esperando o alerta, da outra alma deserta, para encontrar sua paz
Na voz, no corpo, no olhar, no momento incapaz.
Nos termos virou sossego, refúgio de todo desapego,
Essa luta sem vencedor que nos arrebata, mas não desata,
O nó que se fez do amor.

(Lara Gay)

24 de maio de 2012

Pela goela abaixo.


Quando eu era criança e não queria tomar o remédio, a mamãe apertava a minha boca nas laterais até eu formar um biquinho e enfiava a colher lá no fundo, até onde eu não conseguisse cuspir de volta.
É assim que me sinto com algumas pessoas.
Parece que me enfiam elas pela goela abaixo e depois ainda preciso sorrir pra foto, sem mostrar sintomas de cara feia , mesmo com aquele gosto azedo penetrando por dentro.
A diferença é que quando criança eu sabia que daqui uns dias ia acabar o remédio , e agora, aos 27 anos, esse gosto ruim é por tempo indeterminado.
Deveria ser proibido viver de aparências. Deveria ser considerado ilegal conviver com quem não se gosta. Trabalhar então, nem se fala...
Não sejamos hipócritas, a vida é assim.
Existe uma linha muito tênue entre o ser educada e o ser falsa, e eu tomo um cuidado imenso para não ultrapassar essa linha e ser julgada pelo que não sou. Não pelo julgamento dos outros em si, mas por mim mesma, para a minha essência não ser abalada.
Aguento então, por amor ao que quer que seja, por respeito ao que não é meu, ou por inúmeros outros motivos, mas me dou o direito de chegar em casa e enfiar o dedo na goela aos berros, para colocar pra fora todo esse amargo engolido por obrigação.
Só assim sou capaz de suportar novamente o próximo dia de doença.

(Lara Gay)

14 de maio de 2012

Com gosto de amora.

Podia ser qualquer outra fruta, mas eu escolhi a amora.
Pra mim, só podia ser amora, porque é uma fruta doce, mesmo quando azeda.
Porque a amora pode ser de vários tipos: amora-branca, amora-preta, amora-vermelha, até amora-silvestre, mas todas são amoras! E você sabe só de olhar!
E ela é assim...
É doce em seus vários tipos de humor (mesmo quando está nos seus dias sem humor), ela tem cores, formas, ela embeleza os lugares por onde passa, ela deixa o cheiro no ar, ela é amor.
Só que é ela.
Ela é amora.
Amora boa mesmo é a de Julho, e foi exatamente quando nasceu a minha amora.
Ela veio canceriana com toda sua delicadeza e leveza.
Sua lágrima a embebeda de um sabor que até ela desconfia existir.
É linda até na sua dor... E como é linda essa minha amora!
Até a minha dor tem sabor desde que ela chegou.
O vento no rosto agora é dividido nos passeios de bicicleta, e naquele domingo chuvoso enquanto todos estavam embolados nas cobertas, ela estava ao meu lado no hospital, deixando cor na minha vida, segurando sua raiz junto da minha, acalmando meu peito agora com gosto...
Um gosto de amora que só ela tem. E eu... a tenho.

(Lara Gay)

23 de abril de 2012

Mais um.

Lá estava a moça de pés descalços pagando seus pecados. Carregava uma garrafa de vodka em uma das mãos, um sorriso roubado no meio do rosto, e um pedaço de pão amassado caindo entre os dedos. Ouvia a trilha sonora da sua vida na sua mente que ainda mentia sobre histórias de amor e finais felizes. De bar em bar passava seus dias, de noite em noite calejava suas dores. Fugia de juras eternas e sempre engolia prazeres com nó na garganta. Fingia ser puta pra guardar sua dama. De tanto se dar se deu pra mais um que negando de cara seu corpo tatuado, despertou a menina da moça vadia escondida no rímel borrado. Não sentiu medo. Abrindo as portas sem abrir as pernas abriu caminhos para ser feliz. Dia após dia o mais um descobria mais um segredo da moça, e como quem veio pra cuidar, ele aceitava um passado condenado de bocas e vidas, de becos e vindas. A moça foi se sentindo amada mesmo sem compreender porque ganhara tanto amor do nada. Foi então, num impulso ingênuo, deixando o mais um a tomar por inteira sem dividir seu corpo com mais nenhum. (Lara Gay)

21 de março de 2012

Sem saída.

Desesperadamente ela corre contra ela mesma procurando a saída daquilo tudo
A cada saída um beco sem saída sem ida e sem ela
De tanto fugir de si, esbarra nele...
De novo.
Como não cair naqueles olhos arregalados espantados de tanto vagar?
Como não deitar naqueles lábios mudos de tanto gritar?
Ele divaga no beco que é a vida dela
Usa e abusa de sentir o que já não é
Borra mais um pouco aquela maquiagem
Censura por mais umas horas uma vida vagabunda que tropeça o tempo todo
Nele
Ela implora a liberdade de se ser somente só
Entende que sua saída é nela mesma
Mas não a encontra
Dança sozinha tentando se acompanhar
Ele escreve engasgado de tanta mudez
Saem do beco, mas não saem de si...

Essas palavras que berram dos dedos dele só comprovam o desespero de tanta certeza confusa.

E ela ainda dança.

(Lara Gay)

7 de março de 2012

No seu tempo.

Quarta-feira.
Noite.
Me destruo ao som do rock.
Ou jazz?
Achando que sou outra, se não eu, a que nunca fui.
Querendo... ser.
Você.
Não a outra, como de costume.
Em algum lugar distante. Que não sei.
Que não sou.
Vou sendo de alguém que não sabe quem é.
Mas eu sei.
Entende sua confusão?
Foi assim o tempo todo.
Agora passou.
Passei?
O jazz saiu da minha vitrola.
Alguma coisa ficou.
Fiquei.
Fiquei?
Em algum lugar que já não sei.
Aonde você me guardou?
Por tanto tempo me guardei...
... pra você.
O tempo passou, e eu cansei.
Também quero passar...

(Lara Gay)

15 de fevereiro de 2012

És tu, menina travessa

Julga-te, quem não te conhece, pela espontaneidade exagerada
Tu és isso, menina travessa, o que desperta o sorriso no canto da lágrima
Surges do avesso consertando erros sem saber
Sem noção de ser tão anjo vens tropeçando em tuas asas
Desengonçada, barulhenta e encantadora
Caída então aos meus pés, te recrio com mais defeitos
- O que te torna cada vez mais perfeita para mim -
Transformando-te em líder dos momentos que não vivi, vasculho coincidências pra comprovar tanta sintonia
Não encontro porquês!
Abandono tudo então.
E a insônia aumenta em meu sofá de risadas... tão tuas.
As ouço pra dormir em paz
Embalada em teu som meio rouco e agudo. Meio elétrico e choroso. Meio metade e completo.
Encontro-me em teu colo, em desespero, secando restos de carência no teu casaco preto.
Cuidou de mim. Fez-me amada. Sorri sem motivo.
Isso és tu, menina travessa, o que faltava na minha inconstância.

(Lara Gay)

25 de janeiro de 2012

...

Depois de você, não tenho pressa em amar. Me dar num canto qualquer.
Vestígios de mulher. Incompleta a minha forma de bar em bar. Passando no seu rosto em prantos. Roubando encantos. Pra pagar a alegria emprestada na próxima rodada.

(Lara Gay)

14 de janeiro de 2012

Desde que você se foi.

Desde que você se foi sinto falta de ser sorriso
Do seu sorriso sendo meu
Sendo eu
Encho a cara de solidão na esperança de te achar em tantos copos
Encho a casa de companhias na esperança de te perder em tantos corpos
Desde que você se foi sinto a ausência da pulsação
Um conjunto de nada me mantendo em pé
Uma tentativa fracassada de saber o que é
Desde que você se foi não derramei uma lágrima
Não liguei pra você
Não chorei de prazer
Sou bicho solto em cada rua
Engolindo sapos e choros ao sonhar com sua voz
Negando pra mim mesma que não te quero de qualquer jeito
De qualquer jeito é tendo você que me sossego de mim mesma
Desde que você se foi o castelo desmoronou
O azul desbotou
O cachorro se calou
Tomei salivas de café sem motivo pra dormir
Selecionei mais piadas pra um dia você rir
Desde que você se foi a saudade me acompanha
E me carrega num cansaço de te querer cada dia mais. Cada dia mais. E mais...

(Lara Gay)