27 de dezembro de 2010

Sua voz

Ah, garoto!
Sossega um pouco nessa inspiração que você me dá.
Quando eu acho que minhas últimas palavras pra você já ficaram no passado
Ouço sua voz ao longe
Vindo de um radinho de celular de alguém que não conheço
Me orgulho tanto de ouvir de lábios desconhecidos letras suas
Abro aquele sorriso tímido
(que eu costumava dar ao acordar ao seu lado na manhã seguinte)
Vago em pensamentos com aquela nostalgia dos nossos anos vividos
Começo a prender meu riso (escandaloso) relembrando nossos poemas
Nossas viagens
Nossas loucuras
Nossos momentos
Cadê você, garoto da guitarra?
Tem saudade batendo aqui
E eu perco o ponto ao me perder na sua voz
Ainda!
Até quando?
Que seja sempre
Porque você alivia o que quer que seja
E eu não me sinto sozinha quando sinto você
Salto do ônibus e ando até em casa
Com sua voz me guiando

(Lara Gay)

24 de novembro de 2010

Na mesa do bar

Sensação de câmera lenta.
Fixei naquele momento.
No sorriso largo dela que parecia querer engolir o mundo para alimentar o vazio que a preenchia.
O olhar tão penetrante enquanto gesticulava suas dores que fiquei hipnotizada por alguns segundos.
Perdi a história.
O cabelo preso com dois grampos formando o ar de menina travessa.
As tatuagens escapulindo pela blusa, pela saia, pela bota...
Era ela.
Como sempre foi.
Exatamente ela.
A mesma voz que me acalmava.
A mesma irmã de alma.
Era ela, iluminada como só ela é.
Fazia tanto tempo que eu não reparava em seus detalhes.
Tão linda e tão viva.
Me enchi de uma paz ao me perder naqueles segundos que me senti completa por estar ao seu lado.
Senti raiva de mim por ter perdido tanto tempo remoendo mágoas
Por não ter perdido outras histórias em outros momentos observando sua delicadeza
É tão bonito ver aquele lado humano da super heroína que não chora e não cai.
(Ela sempre foi minha super heroína, embora não saiba.)
Me deu uma solidão de ter vivido momentos sem aquele riso
De ter chorado sem molhar aquela borboleta
De não ter sido o colo que ela precisou quando se sentiu sozinha
Tive vontade de pegar na sua mão e pedir desculpas.
De dizer que a amo sem receio e sem medo de julgamentos.
Mas era ela ali.
E eu tive vergonha... de mim
Continuei na minha câmera lenta tentando retomar o rumo da conversa.
Dei um sorriso concordando com a cabeça sem saber o que ela falou e dei um gole no copo de água.
Era ela.
A mesma amiga de sempre.

(Lara Gay)

6 de novembro de 2010

O amor no colo


"A dor não pede compreensão, pede respeito. Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.
Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento. Que não esclarecem que acabou. Que deixam que os outros entendam o que desejam entender. Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado. Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar, acontece com todo mundo.
Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.
Não é melhor assim. Não tem como abafar os ruídos do choro. O corpo não é um travesseiro. Seca com os soluços.
Não é melhor assim. Haverá gritos, disputa, danos. É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia. É engolir o gosto ruim da boca, agüentar o desgosto da falta do beijo.
Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure". A despedida não é lugar para poesia.
Haverá uma estranha compaixão pelo passado, a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso. Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo?"
Haverá a indignação como última esperança.
Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.
Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher, não para se distanciar dela.
Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.
Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos. Mandam mensageiros.
Não recolhem seus pertences na hora. Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.
Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças. Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.
Mas estar ali é o que o homem precisa. Não virar as costas. Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado, ouvindo o que não se quer escutar. Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava. Porque aquilo que ela diz também é verdade. Mesmo que seja desonesto.
Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo.
Deveriam olhar fora de si. Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.
O médico colocará o filho morto no colo materno. É cruel e - ao mesmo tempo - necessário. Para que compreenda que ele morreu. Para que ela o veja e desista de procurá-lo. Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura. Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram, que ela tentou trazê-lo à tona. Que possa se afastar da promessa de uma vida, imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.
Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz. Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim."

(Fabrício Carpinejar)


ps. só pra fixar, esse texto NÃO É MEU! é do poeta e jornalista Fabrício Carpinejar, mas quando li fiquei muito tocada, porque é exatamente o que eu queria falar há dois meses e não consegui achar palavras! Então, uso as dele pra expressar esses dois meses engasgados. Obrigada.

25 de outubro de 2010

a pata e a leoa

JU LOHMANN

conhece meus erros, menina

sabe dos meus piores feitos
do que empurro pra de baixo do tapete
minhas miragens e loucuras
das curas e vícios
ouve meu sorriso quieto
e ao despetalar em pranto
conhece causa, culpa e espanto
sabe dos meus silêncios, menina
da minha quietude de esquina
do meu bar, do meu bebê
do tropeço que ninguém viu
e que você, comigo, riu
assopra meus pecados
celebremos o vazio jogadas no sofá
segredemos Galeano
Caio Fernando, Clarice
você; minha leoa
me defende enquanto eu me acho
no teu conto de fadas me refaço
por você fui pega pelo braço
e ouvi com força, sem embaraços:
“Ei, sua pata
é assim que se faz laços!”


LARA GAY
divido contigo o pecado de ser eu
aprendendo o silêncio de não estar sozinha
te dou minha mão, te dou meu colo
cure minha insensatez , pata, eu imploro
somos palavras rabiscadas em peitos
nomes tatuados com defeito
entendemos o alívio da imperfeição
rimos no buraco buscando solução
ao seu lado me completo
me desmancho, me entrego
alma gêmea que me cuida
cala a dor do meu passado
vira fera em meu altar
vira anjo pra brigar
recebe a vida que te entrego
no soluço que me engasgo
nosso laço é quase um nó
não desfaz
não desata
uma leoa e uma pata

1 de outubro de 2010

A moça de capricórnio


Ela chegou!
Não existem dúvidas da sua presença
Olhos brilham, corações pulam, sorrisos se abrem
A moça de capricórnio traz suspiros em suas costas
O verde que deságua em sua pele
Lábios grossos que lançam desejos
Cachoeiras de lágrimas
Alívios
Suor
Convida achados e perdidos para a dança da sua cor
Com vida enlaça mortos em seu corpo... de amor
A moça de capricórnio rouba o sol
A cena
O tema
Destrói passados ultrapassados
Revive em paz momentos
Sussurra lamentos
Seca o rastro úmido da baba alheia
A moça de capricórnio controla o vento
Desvia o riso de todo moço
Linda
Ainda que não sinta
Mesmo que não saiba
Ela chegou!
Todos olham ...

(Lara Gay)

23 de setembro de 2010

sábado


não entende minha segura insegurança com a flecha na boca
se fecha pra angústia instalada na garganta
me debulhando em palavras tento impedir a partida
.............................................. parte
fico.
com dúvidas e certezas enforcando o meu dia branco
vazio da sua cor e cheio do nosso amor
grossa forma leve de viver nos extremos
quem vai condenar a intensidade de um peito?
menina exagerada debruçada na janela
ameaçando se jogar pela incompreensão de seu impulso
recua medrosa cheia de covardia
corajosa tentativa fracassada
quer ser aceita sem entender o outro ser
não vale um centavo
é só discurso engasgado
dizem...
vive de poesia e não sabe mostrar que ama
morre por isso
mas continua amando

(Lara Gay)

18 de agosto de 2010

Duas


Bateu na minha porta com a mala na mão
Uma coragem tímida
Eu abri de peito aberto e dei de cara com a dor me sorrindo
Um silêncio sincero. Nada constrangedor. Sincero.
Abracei aquela vida tomando ela pra mim
Emprestei meu colo pros dias solitários
Minhas (milhares de) palavras pras noites de insônia
Aos poucos dividimos risadas, guarda-chuvas e contas
Passamos noites em claro devorando vícios televisivos
Devorando pizzas e brigadeiros
Transformando a monotonia em companhia
Fui aprendendo a ser duas, a ser mais...
Me ensinou a ler os olhos. A mudez da boca.
Me trouxe a paz perdida na desordem
Registros únicos. Focados no momento exato da alegria. Do movimento.
A disputa infantil de quem dorme primeiro
O “boa tarde” assim que os olhos se abrem ao meio dia
Roupas emprestadas. Histórias trocadas. Estradas cruzadas.
Conquistou o seu lugar
Cativou o inexplicável
Tem seus pedaços espalhados na ausência física
A mala foi fechada. Foi embora.
O barulho do silêncio irritante
Meus passos sozinhos pela casa
... É só saudade de ser duas.

(Lara Gay)

4 de agosto de 2010

boba


Costumava se perder dentro dela mesma diversas vezes em menos de um minuto
Concluía lógicas incoerentes do que era aquele furacão sem nome que vivia dentro de si...
... e ria.
Ria delicadamente numa leve loucura assim que mudava de opinião
Contava sonhos pras estrelas com um copo de água na mão e cantava com o rosto enfiado no travesseiro sufocando o choro entalado.
Achava que assim a vida podia ser engolida junto com a dor ao som da sua própria voz abafada
Ela era discretamente exagerada
Era boba, diziam
E assim se sentia
Sua vida era um livro aberto, bem rasurado e com alguns rasgos nos finais dos capítulos
Tudo terminava em reticências... ou não terminava
Tinha aquela flor azul desenhada no cantinho de cada página
É... era boba ela
Constantemente perdia os chinelos no caminho até a praia
Mas sempre encontrava um par de olhos sorrindo pra aquecer seus pés descalços
Desconfiada. Desafinada. Descontrolada.
Sorria sangue
Na sua arisca forma defensiva conquistava cada vez mais almas bêbadas e trôpegas carentes do silêncio de um grito
Molhava o rosto na beira do mar porque não sabia nadar
Dormia de meias (rasgadas) para se proteger do bicho papão
Uma agonia eterna dentro daquele pequeno corpo bobo de menina
Morria com a lua
Respirava através de pausas e suspiros
Sobrevivia ... linda ... viajando sem saber pra onde ir.

(Lara Gay)

30 de julho de 2010

juliana

"pequena menina (de) virgem
de vargem grande
a FON(te) SECA sem a sua presença
constante

me leva na (p)alma da mão
numa fala dA TUA aÇÃO
cura minha loucura na travessura da sua doçura
na raridade de uma amizade embriagada de lealdade

infinita essa beleza
(in)certeza inocente
Indecente esperteza
favorita confidente"

(Lara Gay)

6 de julho de 2010

Pintura


Me mudando no mesmo lar
Trocando os móveis de lugar
Rabiscos velhos ganhando cor
Tintas sujando a mão do pintor

Surge o branco em letras rimadas
Somem nomes nas paredes pintadas
Latas vazias de tom azulado
Escondendo as pistas do antigo culpado

Roupa manchada procurando pincéis
Jornais espalhados entre outros papéis
Renovando a alma, colorindo a vida
Pintando com calma, tapando a ferida

(Lara Gay)

29 de junho de 2010

O que falta


em que momento perdemos aquilo que ainda nascia?
fico quieta no canto no aguardo do meu “bom dia”
esperando em vão um manifesto de saudade
atualizando sua vida em busca de novidade

me rasgo de ciúme com seu novo sorriso
essa angústia engasgada é meu medo de me esquecer
aquela bronca e seu colo que eu ainda preciso
pedaço de mim, não sou mais eu sem você

(Lara Gay)

18 de junho de 2010

Em partes


me tira do vazio
preenche o meu nada com o silêncio do carinho
interrompe essa farsa de viver em mil sorrisos
é uma angústia inacabável
um aperto sufocante
respira o meu ar no amanhecer de um simples beijo
não quero ser mais essa menina sem destino
alguma coisa ausente que me mata frequentemente
são partes em partes espalhadas por toda parte
talvez faça parte de partir por inteira

(Lara Gay)

7 de junho de 2010

tinha que ser ... pra você

o detalhe das mãos dadas meladas de álcool na mesa do bar
a pausa do sorriso no momento exato do brilho do olhar
todo conforto de um abraço apertado que diz tudo em silêncio
aquela saudade diária que nos consome me fazendo gritar... seu nome
não se perca nunca dos meus passos, menina travessa
me leve contigo no constante delírio da sua madrugada sem destino
permita minha exagerada calma no meio do furacão de sentimentos
tinha que ser...
você !!
seus pés descalços e os sapatos jogados
a melodia berrada com seus braços pro alto
me desculpe a distância descabida das nossas vidas
minha alma é seu porto em cada amanhecer
aquietando minha fúria nesse canto do mundo
um instante em preto e branco pra eternizar o que se sabe
nós sabemos
o seu bom dia que alegra meu dia-a-dia
inspiração certa das minhas palavras transviadas
tinha que ser...
você !!
moça do riso fácil e do ombro amigo
eu te prometo
sempre estarei contigo

(Lara Gay)

feliz aniversário, belinha.
eu te amo.

31 de maio de 2010

Aconteceu você


É de repente mesmo, como dizem
O telefone não tocou
Aquela música também não
Não tiveram sinos ao longe
Muito menos câmera lenta
Nada de cartas
Nada de sonhos
Nada de nada
Quando percebi, ele já cuidava de mim
Nem sei dizer o motivo
Olhei pro lado e ele sorria
Nunca falou muito
Mas tava sempre ali
Segurando minha mão
Acalmando minha fúria
Enxugando minha lágrima
Me intrigou tanto aquela presença
Por quê tanto cuidado com uma fera sem destino?
Tentei algumas vezes, inconscientemente, fugir daqueles braços
Sempre tão independente
Nunca precisei repousar em portos seguros
Meu medo se encaixava na solidão da minha cama (de casal)
Jamais aceitaria um abrigo certo depois de tanto erro acumulado
E ele parado no mesmo lugar
Ali
Me olhando
Será que não se assustou com a intensidade dos rugidos?
Doente alma feminina repleta de sonhos
Incansável menino do olhar
Liberdade presa no peito de um estranho
Indecifrável calmaria numa contínua tempestade
De repente
Aconteceu você...
... e eu

(Lara Gay)

24 de maio de 2010

Ela e Ele


Nada mais havia entre eles
Ela precisou fechar aquela porta
Cheia de cicatrizes
Vazia de sentimentos
Não derramou uma lágrima sequer
Já estava seca de tanta dor
Segurou firme na mão de seu anjo
Sangrando em silêncio
Entendeu que não devia mais
Tinha se tornado escrava da sua própria vida
Crescente vício desde o início
Na abstinência de cada dia cinza
Ele continuava ali
Disfarçado de melodia
Vagando de canto em canto
Inquietando sorrisos em bocas estranhas
Já não mais se importava com a presença dela
Não passava de um passado presente incoerente
Guardava no fundo a dúvida de anos
Mas o ponto era final
Ela recolheu os seus versos espalhados
Apagou as tatuagens
Foi embora sorrindo
Engolindo o grito na garganta
Ele continuou sentado
No tumulto de ser o centro
Nem a viu partir
Não sentiu a sua ausência
Só ouviu alguma coisa
Um berro agudo no violão
Uma corda arrebentou

(Lara Gay)

17 de maio de 2010

Confusa(s)


A menina era confusa
Não entendia nada daquilo tudo
Preferia deixar a bela guiar seus passos
Já que seu caminho já era meio torto
Se sentia segura naquele sorriso
Sem motivo
Ia se perdendo naquela vida
Se encontrando na sua alma
A bela guardava a menina no colo
Protegia suas dores com a força de um olhar
Dava sentido pro sem sentido que tomava sua rotina
Ciumenta menina carente de abraço
Guardava sua angústia no silêncio de uma noite
Aguardava o sorriso pra cuidar daquele pranto
Ensurdecia na espera da bela voz que a acalmava
Dormia no vazio
Se preenchia ao acordar
Desculpas pelo que não se sabe explicar
“Cuida bem de mim”, pedia a menina
Só isso
Mas a bela era confusa
Não entendia nada daquilo tudo

(Lara Gay)

11 de maio de 2010

Mulher sem valor

Dói
Um pouco de nada sempre dói
Era cruel o que ela fazia consigo mesma
Ia ao limite do sentimento pra ter certeza se era real
Um monstro
Não entendia como alguém podia amá-la
Tão fria
Tão seca
Tão molhada
Jamais descobriu o que fascinou aquele rapaz
Nunca entendeu porque tantas noites em claro
Só pra acariciar os cachos dela
Só pra cuidar da sua insônia maldita
A voz dele acalmava sua angústia
Mulher intragável
Egoísta
Nunca entendeu nada
Cega pelo seu orgulho
Espelho sem reflexo
Muda de amar
A má por não mudar
Cala esse peito que chora sem parar
Ele é teu
Ninguém mais o quer
Agora vaga por aí
Segue seu rumo sem rumo
Sozinha
Ela pedia socorro em gritos entalados
Em berros descontrolados
Mas nunca soube expressar o que queria
Idiota exagerada
Engole seu pranto seco
Intensifica a sua calma na tempestade que te cai
Mulher sem valor
A culpa foi sua.

(Lara Gay)

26 de abril de 2010

a Bela da Branca


Branca de neve embriagada
Uma mesa na madrugada
No primeiro dia do segundo mês

Bela morena isolada
Uma conversa na gargalhada
No momento em que a vida morreu de vez

Recupera uma alma sem pretensão
O sol nasce no calçadão
Alimenta um sorriso vazio
Aconchego nobre num peito frio

Noites enfim sonham em paz
Caminhos tortos não importam mais
A branca encontrou sua bela escondida
Uma voz agora nina a dor adormecida

(Lara Gay)

15 de abril de 2010

Ela é ...

Ela é o anjo que guia o meu caminho
Que abençoa o meu viver e que remenda cortes largos
É a mudez desajeitada e o pacto eterno na pele
Ela é a luz de toda fresta e o abraço da chegada
Dentro dela existe um mundo sem limites
Com desejos
Sem pecados
Com surpresas
Sem juízo
Tudo que ela toca vira paz
Tudo que ela diz vira riso
Ela é o elemento primordial pro meu sossego
Ela é meu refúgio indispensável no medo
A essência da minha certeza
É tudo que eu sempre tive
O ciúme da confiança
O segredo e a pureza
As aventuras na meninice
E todos os detalhes de carnavais
Chuvas
Viagens
Asas
Danças
Provas
O intenso céu do meu destino perdido
Ela é a exceção em regras de punhais
A mão que cura feridas
A força que me tira de abismos
Sou feita da lealdade de sua amizade
E sou a marca viva de uma ariana
Ela é o futuro que anda ao meu lado
Ela é.
Sem ela eu não sou.

(Lara Gay)

ps. e esse é o resumo do que ela é.... pra mim.
feliz aniversário, eliza!!
eu te amo, pelo p6.

5 de abril de 2010

Eu Você e a Lua

Eis que surge a lua nova
Imperceptível na sua sombra
Discretamente assombra o fundo de uma garrafa de vodka
Eu e você.
Ela cresce no meio de um nada perdido em mim...
... em outras...
... em todas.
Ela cresce no meio de tudo que você não quer
Evita
Foge
Nega
Chega doce se enchendo do seu vazio
Ofusca
Cega
A lua
Se enche cada vez mais de todo o nada que eu to cheia de me esvaziar
Eu e você.
Cresce cada vez mais
A lua
Mingua cada vez mais
Eu...
... e você.
Mingua
No seu medo infantil se esconde atrás da lua
Pra não acordar nunca...
... Mais!

(Lara Gay)

30 de março de 2010

Uma história branca e preta

Numa folha branca de um caderno velho de teatro
Começam os primeiros rabiscos de um lápis preto e forte
Umas palavras soltas numa festa de aniversário com um enorme sorriso
E o convite para começar uma nova história
Entre bebidas, gargalhadas e confidências
Surgem rascunhos em algumas linhas tortas
Embriagadas de semelhanças
Páginas com garranchos
Algumas folhas rasgadas
Muitos segredos guardados
Pouco sentimento escondido
Infinitos desejos entalados
Capítulos imensos de uma vida dividida
Composta por parágrafos
De dor, perda, força, lealdade e amor
A primeira amora desenhada em vermelho
No espelho de um banheiro secreto
O último amor dilacerado
Abandonado, magoado, acabado
Onomatopéias de prazer
Páginas em branco de silêncio
Fotos coladas com sensações inexplicáveis
Formando uma história
Cheia de palcos, letras e livros
Com essência de Clarice, Caio e Cazuza
O reencontro das almas gêmeas
Uma história de lua cheia e presente aberto
Uma história branca e preta
Com muitas cores e sem ponto final

(Lara Gay)

ps. dia 28/03 foi aniversário da minha preta michelly barros.
minha pequena homenagem pra uma das melhores amigas que tenho na vida.
amor eterno.

20 de março de 2010

verbalize


faça dessa página a chave pro futuro
impeça minha arte de berrar pelos cantos
limite o seu sorriso ao final do nosso pranto
solte sua voz nos meus solos de guitarra
chame meu nome em sonhos impossíveis
desenhe minha boca na sua nuca que me arranha
troque de cama no frio das manhãs
molhe o meu corpo com o suor do nosso encontro
pegue minha mão contorcida de saudade
seja minha certeza meu refúgio minha leveza
verbalize tantos anos perdidos em nós dois
ponha fim nas reticências dessa história incoerente
sai do muro
ou sai da frente.

(Lara Gay)

11 de março de 2010

qualquer coisa, por favor

algum instante pra mudar o adiante, por favor
corda no buraco
vela no apagão
qualquer coisa que altere o lugar do corpo amanhã
alguém distante pra chegar com meu calmante, por favor
me inspira na poesia
a noite que dá bom dia
qualquer coisa que alegre uma vida banida de sonhos reais
entre sem bater
deixa o gelo derreter
esse fogo que não apaga
meu sinal de fumaça se perdeu em algum foco
aonde foi parar a melodia daquele amor?
por favor, não me esqueça na janela... na espera
essa seta sem alvo certo no incerto de todo mundo
muda alguma coisa, qualquer coisa, nesse peito vagabundo
um cansaço que se instala
um vazio que atormenta
o ausente de presente
dispenso votos de solidão
qualquer coisa, por favor
sou ser sem tino e direção.

(Lara Gay)

5 de março de 2010

Eu e as regras


As regras despencam pela minha janela
Observo lentamente tudo se quebrar no chão imundo
Hoje eu quero dançar ao som do pecado
Minha noite termina ao meio dia
Vestida de sorrisos
Tropeçando em pedaços
Procuro um lugar seguro pra guardar minhas aventuras
Talvez um refúgio caótico na parte alta do meu peito
Encontro você entre destroços e sentimentos banais
Sorrio
E sangramos juntos ao som da sua voz
Hoje eu quero cuidar do seu caminho
Completar o espaço vazio
Fingir que somos dois na multidão do seu foco
Não quero fórmulas pra te amar
Dispenso ordens de olhos alheios
Esse momento é minha alegria até que a lágrima termine em meus lábios
Só então digo adeus sem remorsos
E continuo vagando pela trilha que fizemos
Nua
Sua
Que venha o dia seguinte!
Depois eu me acerto com os cacos das regras ...

(Lara Gay)

28 de fevereiro de 2010

a princesa que eu conto

quem é você boneca de pano?
serena princesa perdida entre sapos
solta teu verbo
grita bem alto
alivia essa dor que maltrata teu peito
esmaga toda mágoa com o peso da tua voz
... doce ...
ilumina o que é turvo com o verde dos teus olhos
você pode mais que pensa
você vive mais que morta
o mel escorre em teus cabelos
deixa o teu gosto engasgar na boca alheia
sorria a quatro ventos entre gritos de alegria
voe com tua saia rodada até os pés
de onde você vem gata borralheira?
pra onde vai tanta insegurança?
segura em tua trança, rapunzel
a força vem da ferida aberta
tua beleza é o pecado de quem olha
tua sede é o lábio de quem se foi
tua fome não tem nome
... ainda ...
menina da terra
menina do palco
confia no teu passo em falso
é mais verdadeiro que a palavra do vizinho
teu caminho tem perfume
tua luz que te conduz
pureza fatal na pele de criança
poesia perdida na dança
não se torture, fera
a tua bela está dentro de você.

(Lara Gay)

25 de fevereiro de 2010

Monique

Adormece meu pranto que no seu canto se desfaz
Voz doce que acalma meus dias iguais
Morando ao meu lado na ponta do pé
No sapateado da rima numa esquina qualquer
Menina da cor que me envolve em pecado
Beija sua flor num leve toque culpado
Pisa na grama rodando em prazer
Diz que me ama e eu vou com você
No mundo da lua me leva descalça
Perde o caminho de volta na valsa
Salta no tom aumentando a risada
A metade completa com a sua chegada

(Lara Gay)


ps. não sou muito de escrever no fim dos textos, mas esse eu preciso.
é uma pequena homenagem a minha grande amiga Monique Kessous, grande cantora, grande compositora e maior companheira de risadas em aulas de sapateado. rs
todo meu carinho e meu riso mais sincero.
feliz aniversário, amiga.

17 de fevereiro de 2010

O menino do olhar


Carnaval acabou
Bloco passou
Poesia ficou
Um sorriso chegou
Entre devagar, menino do olhar
Chegue com cuidado
Esse lar é cheio de pecado
Esse peito é machucado
O medo mora ao lado
Mas eu deixo a covardia de fora
Não precisa ir embora
Timidez que nos devora
Tira a máscara num canto
A rasgada fantasia embriagada
Faça folia por enquanto
Teu sorriso teu silêncio e quase nada
Vem com a calma que te guia
Meu carnaval é todo dia
Esse encontro inesperado
Nosso caminho cruzado
Vem menino do olhar
Se instala sem pensar
Carnaval acabou
Bloco passou
Poesia ficou
Seu sorriso me chegou.

(Lara Gay)

8 de fevereiro de 2010

Mãe da leoa

Mulher firme da voz ativa
Cuida do meu pranto nos seus braços secos
Cheia de dores
Cheia de amores
Num vazio eterno sem dono certo
Inspira minha vida com a coragem de ser mãe
Lava minha alma sem o medo da conseqüência
Deixa eu dormir no colo da inocência?
Protege os meus passos perdidos nessa estrada
Perdoa minhas palavras misturadas com mil mágoas
Me ensina sua bravura, mulher que me deu um nome
Guerreira que curou minha fome
Entenda meu grito no silêncio dessa noite
Minha cor que não exala o brilho do heroísmo
Sou fraca num poço sem corda sem saída
Mas limpo seu caminho com o suor da covardia
Revelo meu orgulho com frases perturbadas
Controlo minha demência entre tapas e apelos
Eis a forte dama ariana em copacabana
Que acalma a selvagem escondida em sua toca
Que cura o pecado com carinho renovado
Digo que te amo sem o som da minha voz
Você, mãe da leoa, é o refúgio de todo caos.

(Lara Gay)

1 de fevereiro de 2010

Nós em detalhes

Cansei de ser o álcool da sua madrugada
Estou embriagada da sua poesia há anos
Uma ressaca incontrolável que eu adoro sentir
Odeio a ausência da sua presença
E todas as formas que você me alucina
Chega de acaso
Chega de caso
Me tire do seu bolso e me jogue na varanda
Ao lado do seu violão quebrado
Com as cordas amarradas no meu pescoço
Rasgue minhas palavras afobadas de desejo
Afogadas de lágrimas secas
Empreste nosso elo pra próxima passante
Diga que sou seu passado constante
Solte nossos leões no picadeiro
Os palhaços perderam a graça
Possivelmente talvez
Estejamos perto de nós
... Desate-os
Antes que seja tarde

(Lara Gay)

26 de janeiro de 2010

Descoberta!

Um tropeço
Uma pergunta
Dois sorrisos
E uma noite inteira de cumplicidade
Eu descobri o que nos liga!
São todos esses anos de trocas sem críticas
De berros sem receios
Nós sempre nos aceitamos exatamente assim...
... loucos, bêbados, mas lúcidos.
E ali estávamos nós
Sóbrios
Esperando que o sol não nascesse
Contando cada vez mais nossos contos reais
Nossos fatos sonhados
Olhando nos lábios
Sorrindo nos olhos
Querendo devorar um detalhe perdido
Nunca percebido
Quase impossível
Te conto sem graça o segredo do meu pulso
Jamais revelado pra ninguém
A minha lógica bêbada de um fim de semana de abril
Você ri comigo sem me condenar
E me ajuda a decifrar o enigma com um outro ponto de vista
É porque é você!
É porque somos nós!
E até quando o eclipse tenta cobrir nosso momento
Eu te dou uns tapas na cabeça
Te dou minha mão suada
E mostro que é seguro esse nosso porto com luz
Com sinceridade
Com defeitos
Com história
É leve estar ao seu lado
Eu sou inteira e completa
Minhas metades ficam largadas numa esquina qualquer
As dores se perdem no som das risadas
O relógio para pro aconchego do nosso abraço
Eu seguro suas garras
Você me salva das minhas
E assim o nosso elo se mantém.

Eu descobri o que nos liga:
O prazer do nosso silêncio juntos
Obrigada!

(Lara Gay)

23 de janeiro de 2010

Todo dia é dia de Maria

Vem levada com seu pulo e desastrada
Toda malhada
Toda molhada
Maria que dá sentido para o dia
Leva a bronca da moça violeta
“Desce do sofá, moleca, vê se se endireita”
Corre pela casa alegrando o que era pranto
Deixando sua marca em cada canto
Rouba o pão da mesa
Late quando tá presa
Achada numa esquina indefesa
“Levante, Maria, e me faça companhia”
No seu ventre uma eterna poesia
Uma fêmea de garra sem amarra
A coragem da vira lata selvagem
A mordida inocente da cadela valente
Sua chegada é uma festa permanente
O vendaval vira calmaria
Agora, todo dia é dia de Maria

(Lara Gay)

19 de janeiro de 2010

Hoje

Hoje o leão prende sua juba
Engole sua coragem
Se entrega ao medo
Engasga no rugido
Hoje o leão guarda sua dor
Explode em lágrimas
Avança em coelhos
Maltrata pessoas
Se sente covarde
Hoje o leão não quer ser fera
Cansou de assustar
Tem fome de carinho
Tem sede de cuidado
Hoje o leão quer ser manso
Quer beber leite
Quer ver o sol nascer na rede
Quer ser beijado
Ser amado
Sem medo
Sem limites
Só hoje!

(Lara Gay)

10 de janeiro de 2010

marta

o mar tá revoltado com saudade das ondas claras
tudo escuro sem ela
sem flashs
sem brilho
a morte convida uma alma a viver em seu caos
tudo perdido sem setas
sem placas
sem gaitas
amar tá complicado em navios de guerra
tudo escondido sem abrigo
sem certeza
sem coragem
a maré lá no horizonte azul pedindo socorro
tudo sem cor
sem vida
a marta distante do rio
tudo morto
toda morta
sem mar
sem amar
sem a marta por aqui
sem a marta polaquini

(Lara Gay)

6 de janeiro de 2010

a Atriz e o Poeta


Assuma a culpa por sua vontade, atriz
Foi só o pecado da liberdade
Você teve o que o pulsar quis
A beleza é sua ingenuidade
O poeta transborda paixão por ti
Seus olhos medrosos tentam fugir
Cada dia nasce seco e vazio
Levando uma vida sem desejos reais
Procurando refúgio por um fio
Se perdendo no poeta cada vez mais
Ache sua seta sem meta sem reta
Curvas perigosas alimentam solidão
Fuja da ignorância arrogância intolerância
Seu maior guia não é a razão
Atriz da tristeza
Qualquer certeza se desfaz
Se embebede de versos sinceros
Dançando nas ondas do caos em paz
Siga seu ritmo com melodia torta
O que te domina não mais importa
Não desista do que conduz seu viver, atriz
O poeta precisa te fazer feliz.

(Lara Gay)

3 de janeiro de 2010

Meu voo


Eu fui aos céus dormir com ela
Novata e amarela
Numa redoma de luz

Senti sua paz me tocar
Era a lua a me ninar
Com a canção que eu compus

(Lara Gay)