Uma coragem tímida
Eu abri de peito aberto e dei de cara com a dor me sorrindo
Um silêncio sincero. Nada constrangedor. Sincero.
Abracei aquela vida tomando ela pra mim
Emprestei meu colo pros dias solitários
Minhas (milhares de) palavras pras noites de insônia
Aos poucos dividimos risadas, guarda-chuvas e contas
Passamos noites em claro devorando vícios televisivos
Devorando pizzas e brigadeiros
Transformando a monotonia em companhia
Fui aprendendo a ser duas, a ser mais...
Me ensinou a ler os olhos. A mudez da boca.
Me trouxe a paz perdida na desordem
Registros únicos. Focados no momento exato da alegria. Do movimento.
A disputa infantil de quem dorme primeiro
O “boa tarde” assim que os olhos se abrem ao meio dia
Roupas emprestadas. Histórias trocadas. Estradas cruzadas.
Conquistou o seu lugar
Cativou o inexplicável
Tem seus pedaços espalhados na ausência física
A mala foi fechada. Foi embora.
O barulho do silêncio irritante
Meus passos sozinhos pela casa
... É só saudade de ser duas.
(Lara Gay)