17 de maio de 2013

E se...


"E se não tivéssemos terminado?", ela pensou ao passar de ônibus pelo ponto da casa dele.
Vez ou outra aquela pergunta martirizava a menina de cabelos curtos que jamais encontraria sua resposta. E se...?
Mas hoje era diferente. Era noite de 24 de dezembro! Ela estava de peito aberto, num ônibus a caminho da casa da avó, cheia de sacolas de presente, um peru de Natal embrulhado no colo, e um desejo imenso de descer ali e tocar a campainha.
“E se nos olhássemos uma última vez? Não, não, melhor não. Está tudo bem como está... Não! Não está bem! Não estou bem! E se eu cometi um engano? E se era pra ser? E se eu fosse até lá?” Ela precisava de respostas.
Quando deu por si já estava na porta dele. Parada. Em pé. Carregada de sacolas e desejos. Dedo na campainha.

- Oi.
- Oi! Você...
-  ... Eu tava passando. Desculpa aparecer assim sem avisar... É... Feliz Natal.
- Pra você também.

E ele permaneceu parado esperando o que quer que fosse. Assustado. Nervoso. Aparentemente de coração na mão.

- Tô indo pra casa da vovó.
- Ah! Manda beijo nela, sinto saudade.
- Também sinto! - ela respondeu de impulso.

Silêncio.

- Sabe, às vezes me pergunto o que seríamos se tivéssemos sido alguma coisa.
- Provavelmente já não seríamos nada – ele respondeu rapidamente.

Silêncio.

- É assim que você nos vê? – ela retrucou ferida.
- É assim que nos fizemos ser.
- E se tivéssemos feito diferente?
- Mas não fizemos.
- E se começássemos do zero?
- Não dá! Não existe isso.
- E se tivéssemos sido diferentes?
- Aí não teríamos sido nós.  E é exatamente o que fomos que nos faz tão importantes um para o outro.
- Mas é isso que fomos que nos fez terminar.
- E é isso também que nos fez nos amarmos.

Silêncio.

- E você não me ama mais? – ela perguntou.
- Mais do que tudo.
- Então, e se a gente voltasse?
- Não vai dar. Não quero que nos tornemos nada. Preciso de nosso tudo pra continuar sendo quem eu sou.

Silêncio.

- Eu te amo. – ela disse engasgada.
- Eu também te amo.

E lá estava ela, com suas sacolas e respostas esperando o próximo ônibus passar. Atrasada. A ceia já posta. A família esperando.
E se ela não tivesse descido do ônibus ?
 
(Lara Gay)
 

6 de maio de 2013

... (súplica)



Tenho te sentido tanto e em pranto
Que ao fechar os olhos me confirmo o quanto
Necessito te olhar num canto
Qualquer que se foi de nós

De um passado a não passar por amar
Imploro, que se me é proibido te tocar
Deixe-me apenas sonhar
Que ainda estamos a sós.

(Lara Gay)