28 de novembro de 2009

a Boneca e o Palhaço



Há anos atrás se conheceram por palcos da vida uma boneca e um palhaço
Talvez com a ajuda de um cupido, a boneca tenha sido flechada imediatamente
Não houve conquista
Houve um momento
Seus olhos admiraram aquela figura de sorriso aberto, fazendo graça pra qualquer um, conquistando mocinhas indefesas e divertindo rotinas banais
A boneca pintada de timidez observava de longe o palhaço
Cada cambalhota
Cada piada
Cada cantada
Cada flor dada
E pra boneca?
Nada
Se distanciaram pela lógica do circo
Se reencontraram por obra do acaso
O coração da boneca na boca e o sorriso do palhaço no rosto
E lá vem ele se aproximar dela como nunca feito antes
Pela primeira vez o palhaço tocou na boneca
E ela deixou ...
Foi dominada por uma leveza indecifrável, sinos em seus ouvidos surdos, um arrepio em sua pele de pano, um frio na barriga de algodão.
O circo passou
E lá se foi o palhaço novamente
Deixando a boneca com seus sonhos e sua espera
...
...
A imagem do palhaço ilumina os dias da boneca
A espera é gostosa
O doce nos lábios é constante
E como o destino sempre esteve entre eles
Eis mais um reencontro
Desejos insaciáveis
...
Dois reencontros
A cama molhada
...
Três reencontros
O nariz do palhaço no chão
...
Quatro reencontros
A saia da boneca rasgada
...
Cinco
Seis
Sete
...
E o destino sempre confundindo o circo que é o coração da boneca
...
Agora o palhaço está perto
E a boneca aflita na corda bamba esperando sua partida
...
A maior dor da boneca é saber que o palhaço nunca vai levá-la a sério


(Lara Gay)

24 de novembro de 2009

E ...


... E de repente eu me dou conta de que minha companheira constante é a solidão
Estou tão só que converso com minhas lembranças e meu silêncio
Remexo em sentimentos guardados e isso me causa uma alegre tortura
É quase um masoquismo
Um pouco de nostalgia com gotas de saudade num copo quente de lágrimas amargas
Nomes, fatos, cenas, músicas... um carrossel de pessoas e vozes que me deixa tonta
De onde vieram e pra onde foram todas as promessas esquecidas?
E os planos incoerentes?
Será que em algum momento tudo se concretiza?
De repente alguma coisa escapou das minhas mãos, e eu perdi o controle da situação
O que sempre dominei passa a me dominar e eu me sinto uma escrava de carinhos
Pretextos bobos
Pedidos impossíveis
A espera da volta do nada
Uma música incompleta com uma melodia desafinada
Me sinto assim
Uma tentativa fracassada de qualquer aventura inútil
Desafio meu passado com emoções reais e me contento com beijos de mentira em calçadas alagadas
Aonde eu fui parar?
Porquê eu parei?
Meu instinto sempre foi seguir por curvas perigosas e rir dos desastres no caminho
Me perder sempre foi interessante
E de repente me encontro desesperadamente desinteressada pela perdição que vivo querendo me achar num ponto final de um poema inacabado
Um paradoxo sem fim
Com final feliz?
Lembro quando tudo era meu... ou não!
De repente caio numa gargalhada e percebo a ilusão que tudo era
As lágrimas cessam nesse momento
Prefiro continuar onde estou
Mesmo sem saber onde é isso

(Lara Gay)

21 de novembro de 2009

uma planta em mim


"Existe uma planta que cresce em mim.
Nem senti sua chegada, nem percebi as raízes se firmando, não adubei a terra e nem pus semente alguma.
Surgiu.
De repente.
Se instalou em meu peito junto com o despertar da minha mocidade.
Acho que veio com um vento qualquer.
Talvez tenha entrado com a respiração de uma gargalhada.
De qualquer forma, chegou de fininho...
Dando berros na escola e estampando alegria no meio de uma face intelectual com cabelos lisos e um corte ultrapassado.
Uma figura um tanto quanto cômica.
Uma planta exótica entre tantos animais selvagens.
Um broto de vida querendo achar moradia em solos férteis.
Aceitei sua chegada.
A planta foi regada com lágrimas e suor.
Sobreviveu a temporais.
Foi descriminada por sua essência.
Perdeu algumas folhas em outonos secos.
Ganhou ramos mais fortes com a primavera.
Viu o nascer do sol de janelas abertas.
Sentiu as borboletas na barriga e toda a descoberta de perfumes excêntricos.
Viajamos, reconhecemos amigos, descobrimos pegadas e registramos momentos.
Já se passaram muitos anos desde sua chegada inesperada, e ela não para de crescer.
A planta ilumina minha rotina banal
Dá sentido aos meus passos tortos
Domina a fera que existe em mim
Alimenta uma alma com fome de vida
Cura as dores e comemora as vitórias
Não me reconheço mais sem o seu verde nos meus olhos.
Não existe caminhada sem sua companhia.
Existe uma planta em minha vida...
Que eu amo incondicionalmente.
Que eu protejo de punhos fechados.
Que dá sentido ao inexplicável.
Que não para de crescer.
... essa planta é o meu melhor amigo
E nossas raízes não se separam!"

(Lara Gay)


ps. preciso dizer que amanhã, dia 22/11, é aniversário da minha planta, do meu melhor amigo. e essa é minha pequena homenagem de "feliz aniversário".
agradeço cada dia dessa amizade e todo o cuidado de uma vida inteira.
sem ele eu não sou! te amo, andré!

16 de novembro de 2009

No seu bolso

Ele bate na porta
Mudando meu dia
Trazendo alegria
A surpresa estampada no rosto
Surpreendendo a lógica constante
A semelhança do meu oposto
Reações da pele num instante
Me pede uma mala e minha presença
Eu nego com um inexplicável medo
E questiono sem regras sua sentença
Mantendo meu desejo em segredo
Ele ressurge abraçando uma vida sem cor
Compondo músicas
Beijando uma flor
Me leve no seu bolso pra qualquer lugar
Eu só preciso respirar
Você me liberta da aflição do não ser
Da rotina pesada e da cobrança insuportável de viver
Me trague até o talo
E me beba por inteira
Me devore enquanto eu falo
Não peça nunca a saideira
Me deixe no seu bolso até o fim da solidão
Carregue meu corpo em sua canção
Eu sapateio em sua língua desconhecida
Você toca na minha alma ferida
Sua voz enquanto eu durmo
Um momento que demora
Me proteja por um segundo
Ao acordar eu vou embora

Prometo.

(Lara Gay)

13 de novembro de 2009

Procura-se ...


Uma vida simples
Um sorriso sincero
Um coração aberto
O brilho do olhar
Um sussurro no ouvido
O primeiro pedido
Uma canga e o luar
Um beijo de cinema
Um telefonema
Um par para dançar
Dois pombos na janela
Uma aquarela
Dois anéis e o altar
Desenhos no céu
Pegadas na areia
O gosto do mel
O canto da sereia
Um pijama rasgado
Todo azul do mar
No móvel um retrato
Uma história pra contar
A guerra de travesseiro
A briga pelo banheiro
O sono dividido
Um amante
Um amigo
Sua voz e um sim
O toque do amanhecer
O suor em mim
O desejo em você

(Lara Gay)

7 de novembro de 2009

De pés pro alto


"Nos esbarramos em ondas maiores que a razão
Demos as mãos pra não afundarmos na imensidão de todo aquele azul
Voamos sorrindo em um céu aberto com um destino inquieto
Seguimos lado a lado tentando entender o próximo passo
Tudo na nossa frente e tudo embaçado
Me afoguei em sua essência e me ceguei pros seus desastres
Abandonei uma certeza por me perder em seu encanto
No meu canto tão sozinha me encontrei nos seus braços
Prometemos o mundo numa bola de sabão
Reconhecemos o perigo na diferença dos instintos
Colhemos o fruto que regamos com lágrimas
Terminamos em cacos espalhados na areia
Nossos lírios secaram numa varanda fria
Perdemos pétalas que voaram na tempestade
E palavras que ficaram no fundo do poço
Em tempos de paz reconheço que te preciso
Aceito seu perdão que dorme no meu colo
Zelo teu sono acarinhando cicatrizes
Beijo sua face úmida de mágoas
Ponho a lua em seu caminho pra iluminar uma noite sombria
Te dou o silêncio do mar batendo nas pedras
Seu toque delicado
Seu confuso “eu” genial que se mata todo dia
O nascer da sua esperança
A flor que desabrocha
Eu bebo seu sofrimento
Me sufoco no seu caos
Ouço sua risada ecoar na escuridão
Me alivia o peito
Tudo tem seu tempo.
E agora a gente aguarda...
...
De pés pro alto esperando amanhecer"

(Lara Gay)

3 de novembro de 2009

História deles dois


Entre delírios se viram.
No meio de entorpecentes, bebidas, música alta, gente estranha, roupas rasgadas e toda aquela insanidade se conheceram
Corações disparados e arrepios indecentes... o famoso amor à primeira vista, que nunca acreditaram, estava invadindo aquelas duas vidas tão perdidas em becos sem saída.
Sentaram num canteiro e trocaram confidências e beijos até o sol nascer... a troca de telefones veio por último com sorrisos sinceros e olhos virados.
Partiram.
Se encontraram outras vezes entre filmes e festas.
Foram transformando rastros em pegadas e colorindo paisagens com momentos intermináveis.
Esqueceram antigas dores deixando pra trás toda a loucura que viviam até então.
Compartilharam a cama, dividiram amigos e famílias, aprenderam a respirar fundo juntos, disseram “sim!” com lágrimas de felicidade.
Suportaram brigas, enfrentaram dificuldades, deram as mãos e seguiram em frente.
Sentiram a sensação inexplicável de ouvir o primeiro choro do neném, de registrarem o primeiro passo e de ouvirem a primeira palavra.
Escreveram sua história com a simplicidade do dia a dia e a lealdade de cada noite.
Chegou ao fim.
Será que é fim?
Sem se saber o porquê.
Alguma coisa de repente mudou.
O brilho dos olhos se perdeu no beco sem saída que eles viviam antigamente.
Um detalhe acabou.
Ninguém nunca soube explicar.
Seguiram rumos diferentes, cada um levando consigo sua dor e sua parte.
E quem é capaz de dizer que não deu certo?
E quem tem a coragem de dizer que não foram felizes?
Se completaram e se preencheram pelo tempo que deviam.
Duas vidas, agora separadas, mas ainda ligadas por um passado, por um futuro, por uma alma, por um fruto.

... Por amor.


(Lara Gay)