Há anos atrás se conheceram por palcos da vida uma boneca e um palhaço
Talvez com a ajuda de um cupido, a boneca tenha sido flechada imediatamente
Não houve conquista
Houve um momento
Seus olhos admiraram aquela figura de sorriso aberto, fazendo graça pra qualquer um, conquistando mocinhas indefesas e divertindo rotinas banais
A boneca pintada de timidez observava de longe o palhaço
Cada cambalhota
Cada piada
Cada cantada
Cada flor dada
E pra boneca?
Nada
Se distanciaram pela lógica do circo
Se reencontraram por obra do acaso
O coração da boneca na boca e o sorriso do palhaço no rosto
E lá vem ele se aproximar dela como nunca feito antes
Pela primeira vez o palhaço tocou na boneca
E ela deixou ...
Foi dominada por uma leveza indecifrável, sinos em seus ouvidos surdos, um arrepio em sua pele de pano, um frio na barriga de algodão.
O circo passou
E lá se foi o palhaço novamente
Deixando a boneca com seus sonhos e sua espera
...
...
A imagem do palhaço ilumina os dias da boneca
A espera é gostosa
O doce nos lábios é constante
E como o destino sempre esteve entre eles
Eis mais um reencontro
Desejos insaciáveis
...
Dois reencontros
A cama molhada
...
Três reencontros
O nariz do palhaço no chão
...
Quatro reencontros
A saia da boneca rasgada
...
Cinco
Seis
Sete
...
E o destino sempre confundindo o circo que é o coração da boneca
...
Agora o palhaço está perto
E a boneca aflita na corda bamba esperando sua partida
...
A maior dor da boneca é saber que o palhaço nunca vai levá-la a sério
(Lara Gay)