29 de outubro de 2009

o Elo dos leões


Duas feras indomáveis.
Duas vidas entrelaçadas
Toda vez que ele se vai pra sempre, volta cinco minutos depois.
Um elo tentador que se recusa a se romper
O leonino se exibindo entre canções e aplausos
A leonina brilhando entre palcos e flashs
Um caso por acaso totalmente inacabado
Com cenas de cinema e drinks na madrugada
Com cazuza à meia noite e com suspiros à meia luz
Perdidos em bocas, pipocas e brinquedos
Achados em olhares, camas e tempos
O que move a leonina é o que acelera na surpresa de uma noite
A resposta em seus lábios da questão mais antiga
Seus olhos sorriem ao reconhecerem o som que faz falta na sua rotina
O leonino sempre tão poderoso derrubando o silêncio com seu rugido valente
Saboreando as palavras de olhos fechados
E surpreendendo amantes com gestos sensíveis
O encontro inesperado das feras
O calor incontrolável do lugar frio
O toque arrepiante
Os anos se passaram
As histórias mudaram
Mas parece que nada mudou
Duas feras entrelaçadas
Duas vidas indomáveis
O leonino vai embora, como sempre e pra sempre...
... Mas a leonina não se importa...
Afinal, ele volta cinco minutos depois.

(Lara Gay)

26 de outubro de 2009

a Marca de uma pata


te ofereço meu riso pra confortar seu pranto
e o barulho da chuva pra acalmar seu canto
todas as flores e o cheiro de mato molhado
o chocolate derretido e do mel um bocado
te protejo no meu colo vadio
entre noites e dias de solidão constante
aquecendo seus pés do frio
e tirando retratos da estante
ouço lamentos de um amor no fim
e em silêncio aceito sua certeza
guardo sua dor bem junto a mim
você revela a força no limite da fraqueza
ponho pétalas no seu primeiro passo
esperando a dança de uma alma em festa
um sorriso que ocupa o novo espaço
a liberdade em seus dedos se manifesta
o brilho de um ser abençoado
com um futuro esperando uma caminhada
romances num papel despedaçado
roupas e beijos numa esquina largada
sigo ao seu lado sem rumo sem placas
perdidas no encontro e de mãos dadas
te cubro de preces
te encho de cores
a marca de uma pata
entre amigas e amores

(Lara Gay)

23 de outubro de 2009

Como tatuagem


Com uma agulha e um pouco de tinta, surgem novos traços naquela pele.
Contornando curvas, amadurecendo linhas, transformando seres.
A leveza de seu voo abriu asas pra majestosa juba do rei
A nuvem dos sonhos se transformou na rosa azul da plenitude
Eis que surge um magnata por detrás daquele protetor
Um olhar sereno apesar de sua natureza ofensiva
O guarda-costas da Dorothy
A coragem personificada
O que antes era oração agora é guerra
A guerra da sobrevivência
A luta e as garras
Um sinal de mudança na menina
Ela virou mulher...
... E o anjo virou leão

(Lara Gay)

20 de outubro de 2009

um presente pra mim ...


menina das borboletas na barriga
que se joga, se arrisca
menina que é atriz, poetisa
no palco da vida, o centro é seu lugar...

menina que gosta de gente
que ama, defende
que dança, que sente
seu coração a saltitar...

menina que já não é mais menina
é mulher que ensina
com sua força leonina
o que é o mundo enfrentar...

menina cheia de histórias
menina cheia de glórias
menina cheia de futuro
e passado pra contar...

não diz quem a olha
que ela traz na memória
amores, dores e vitórias
que tanto ela tem a compartilhar...

sua gargalhada é sincera
uma risada tão dela
seus olhos são da alma a janela
onde debruça a verdade que quer acenar...

é dona de frases certeiras
que transmitem da mesma maneira
tudo o que por dentro dela há...

ela chega e o mundo pára pra ver
chegou a branca de neve
com sua presença amiga e alegre
que o ambiente até muda ao receber

(jullie - juliana vasconcelos)

17 de outubro de 2009

dia branco


num dia qualquer, desses que tudo parece cinza e triste, três vidas se esbarraram.
eram três balanços numa praça vazia.
eram três feições abatidas e sem esperança.
eram três meninas buscando alguma coisa.
o silêncio de um fim de tarde chuvoso misturado com o barulho enferrujado do vai e vem dos três balanços.
elas se entreolharam
uma moeda de um centavo caiu do bolso da saia de uma delas e as três começaram automaticamente a procurar a moedinha no meio da areia molhada da praça.
ficaram ali, por uns cinco minutos, cavando, remexendo, jogando areia pro alto...
não trocaram uma palavra sequer.
uma delas achou a moeda.
uma alegria infantil iluminou aquele espaço nublado e as três começaram a bater palmas. Riram... riram... riram... Riram muito alto e juntas, imundas, com os cabelos embaraçados e com areia até na boca.
a moeda tão esperada foi isolada no chafariz.
como numa brincadeira de pique, elas correram pra beirada pra ver aquele um centavo afundar junto com a suave garoa que caía no momento.
uma delas se debruçou o máximo que pôde, não queria perder nem um segundo daquela cena delicada de filme americano... se debruçou mais... e mais... a moedinha tava sumindo... e mais...
caiu na água!
as outras duas levaram um susto.
silêncio.
de repente surgiu a menina encharcada do chafariz jogando água pra todos os lados, com uma felicidade avassaladora...
todas pularam!
uma guerra amigável começou naquele chafariz...
eram sorrisos, berros, água e muita alegria se expandindo pela praça cinzenta naquele dia qualquer.
eram três filhas únicas.
acho que elas acharam o que estavam procurando.

(Lara Gay)

ps. foto por patricia lima

15 de outubro de 2009

Deixa ela ser.


deixa a cantora gritar
sua voz que invade palcos levando alegrias cantadas pra corações solitários
deixa ela pular vestida em cores fortes
ofuscando vistas alheias que procuram incontrolavelmente respostas pra passados e presentes
com rosas cintilantes, amarelos fuzilantes , verdes florescentes e vermelhos vívidos
deixa a cantora ser quem ela é
sua forma peculiar de andar no salto alto
o jeito meigo de menina inocente que esmaga gaviões na palma de sua mão
que engole insultos com uma fome de leoa
que mostra que chegou na pose fatal de ariana
deixa a cantora brincar de ser atriz
se arriscar em mil teatros
conquistar diversos públicos
ser a Alice, a branca e a gata borralheira
todas as mulheres que existem em sua delicada forma mutante
deixa a cantora guardar segredos
revelar sentimentos
fechar os olhos diante de gigantes e pequenos
deixa ela cantar no país das maravilhas
e aceite sua realidade encantada
a cantora se mostra completa a cada melodia
e conquista seu lugar a cada nota aguda
deixa ela ser...

(Lara Gay)

14 de outubro de 2009

Cansaço


O sol já nasceu.
E eu volto pra casa descabelada, com o salto na mão, meio bêbada e com o dinheiro contado.
Venho chutando latas e ouvindo sua voz em minha mente, lembrando dos seus movimentos no ritmo da música, do contratempo da sua risada e de cada detalhe novo que pude captar nas horas permitidas por mim mesma em discretos olhares.
Não podia perder nem um segundo da sua respiração ao meu lado, queria sentir seu cheiro o mais próximo possível, mesmo sendo impossível com a distância dos nossos corpos.
Tentei em vão disfarçar durante a noite toda, o pedaço de coração que pulsava em minhas mãos.
Tentei em vão disfarçar os arrepios que sentia só de você passar por mim.
Tentei em vão disfarçar minhas confusas respostas monossilábicas pras suas perguntas simples.
Um medo de te encarar e você perceber tudo que não digo na transparência do meu olhar... fixo... nos seus olhos...
Pego um copo e encho até a borda, levanto na pose e dou uma gargalhada pra fugir de sei lá o quê que me domina toda vez que você se aproxima.
Encontro funções e pretextos pra me movimentar o tempo todo na esperança idiota de não parecer nervosa.
Tropeço em sapatos, tapetes e desejos... tudo espalhado no meu caminho até você.
Chego cambaleando.
Culpa do álcool... me defendo.
Melhor ir embora, a noite já se foi.
Entro no elevador, me olho no espelho, descalça, meia calça rasgada, cansada...
... sento no chão e te sinto...
Como da primeira vez
Eu já te toquei um dia?
...
Quanto tempo ainda leva pra eu entrar na sua vida?

(Lara Gay)

13 de outubro de 2009

um desabafo inútil


de repente o mundo ficou tão hostil
tudo perdeu a cor
o dia chega e a vontade é de continuar dormindo
são longas horas de questões estranhas
nenhuma resposta
nenhuma pergunta
tudo nublado
sem graça
uma angústia me consumindo
e eu nem sei o motivo
uma sensação de vazio
aonde estão todos?
pra onde foram os anjos?
e cadê o chão?
minhas asas quebradas se cansaram de tantas tentativas inúteis
posso parar agora?
uma pausa para o nada
é isso que eu quero
deitar... e nada mais.

(Lara Gay)

11 de outubro de 2009

A Guria do Flash


Atrás daquela câmera existe um mistério
Olhos doces com um sorriso frágil
Perguntas intermináveis em gestos delicados
Um inexplicável mundo de luzes e imagens
Nada escapa de sua lente
Nada foge do seu domínio
A guria do flash invade a casa
Devora flores
Remexe em almas
Decifra línguas
Completa cores
São tons pastéis em ondas amareladas
São fascinantes olhares indecifráveis
Um anjo enigmático
Um touro delicado
Uma princesa voraz
A guria do flash deixa marcas no silêncio
Deixa a dúvida do seu tom
Ela passa discretamente levando encantos e registros
Suas pegadas na areia e o vazio no infinito
Procura-se negativos
Alguma pista de sua passagem
Uma metade de um instante
Suspiros de um retrato
Nada.
Nem sinal dos olhos dela por aqui

(Lara Gay)

8 de outubro de 2009

saudades de que?


saudades de um tempo que não é meu
de lugares que nunca conheci
de animais que nem sei que existem
da risada da velhinha que come pipoca sentada na praça debaixo do guarda sol
saudades da brisa batendo no rosto enquanto eu pesco
saudades do banho na cachoeira pelada
do canto daqueles pássaros exóticos
da felicidade explosiva da namorada que virou noiva
saudades daquelas saias rodadas
das botas e chapéus dos homens
de toda aquela estrada que nunca pisei
saudades da música de fundo
do tema do casal que flerta pela janela
do som dos passos pesados de dona maria
saudades daquele céu azul turquesa
da lua refletindo na água e iluminando a dança das sereias
de contar as estrelas deitada na grama
do berro agudo do silêncio noturno
saudades da criança correndo na chuva
dos pedaços daquela carta rasgada que não escrevi
do garoto jogando bola na lama
saudades de um passado que não me pertence
de uma parte escondida em mim que anseia pela simplicidade de cada dia
que deseja a liberdade do vento e a pausa do momento
saudades de um eu que nunca fui
mas sei que sempre serei mesmo não sendo no futuro.

(Lara Gay)

7 de outubro de 2009

O Diário de Pin


Eu já sinto os primeiros raios do sol me queimando o fuço
Sinto o cheiro de café quentinho e pão com manteiga do vizinho
Ouço o jornal deslizando na porta de entrada
E em cinco minutos sei que chega a empregada
Pego minha bola e levanto da caminha
Faço meu trajeto diário até a cozinha
Bebo minha água e como um pouco de ração
Ai... ai... mais um dia de cão!
Vou no quarto da mamãe dar uma leve espionada
Não entendo porque ela nunca ta acordada.
Dou um salto na cama e lhe dou uma lambida
Ela vira pro outro lado ignorando o meu chamado.
A chave entra na porta, eu começo minha sinfonia
Balanço o meu rabo dando o meu “bom dia”
Mamãe levanta com o barulho, eu me apresso pra brincar
Ela me faz uma festinha, eu mordo seu calcanhar
Coleira no pescoço
O vento no caminho
Damos voltas pela praia
Água de coco no copinho
Pombos se assustam quando ladro
E eu me sinto o rei leão
Um gato passa do meu lado
Corro feito um furacão
Ganho biscoito da velhinha da praça
Depois que sento e faço graça
A noite chega de repente junto com a brisa quente
Ajeito a juba na almofada
De barriga pra cima ganho carinho
Dou aquela espreguiçada
Tá na hora do soninho

(Lara Gay)

3 de outubro de 2009

Tô ?


Tô sem tempo para rimas
Tô sem vontade de brincar
Tô sem inspiração
Tô com histórias pra contar
Tô com partes no caminho
Tô com medos de criança
Tô sem pulso aqui dentro
Tô fervendo
Tô na dança
Tô querendo provocar
Tô no canto
Tô sem par
Tô alerta
Tô na vida
Tô forçando pra chorar
Tô no riso debochado
Tô com a malícia do meu lado
Tô contando cada passo
Tô no tempo
Tô no atraso
Tô perdida
Tô sem rumo
Tô tentando me encontrar
Tô querendo todo mundo
Tô sem cor
Tô com calor
Tô no chão
Tô pegando a contramão
Tô fugindo até de mim
Tô sem pista
Tô no fim

(Lara Gay)