"E se não tivéssemos
terminado?", ela pensou ao passar de ônibus pelo ponto da casa dele.
Vez ou outra aquela pergunta
martirizava a menina de cabelos curtos que jamais encontraria sua resposta. E
se...?Mas hoje era diferente. Era noite de 24 de dezembro! Ela estava de peito aberto, num ônibus a caminho da casa da avó, cheia de sacolas de presente, um peru de Natal embrulhado no colo, e um desejo imenso de descer ali e tocar a campainha.
“E se nos olhássemos uma última vez? Não, não, melhor não. Está tudo bem como está... Não! Não está bem! Não estou bem! E se eu cometi um engano? E se era pra ser? E se eu fosse até lá?” Ela precisava de respostas.
Quando deu por si já estava na porta dele. Parada. Em pé. Carregada de sacolas e desejos. Dedo na campainha.
- Oi.
- Oi! Você...- ... Eu tava passando. Desculpa aparecer assim sem avisar... É... Feliz Natal.
- Pra você também.
E ele permaneceu parado esperando o
que quer que fosse. Assustado. Nervoso. Aparentemente de coração na mão.
- Tô indo pra casa da vovó.
- Ah! Manda beijo nela, sinto saudade.- Também sinto! - ela respondeu de impulso.
Silêncio.
- Sabe, às vezes me pergunto o que
seríamos se tivéssemos sido alguma coisa.
- Provavelmente já não seríamos nada –
ele respondeu rapidamente.
Silêncio.
- É assim que você nos vê? – ela
retrucou ferida.
- É assim que nos fizemos ser.- E se tivéssemos feito diferente?
- Mas não fizemos.
- E se começássemos do zero?
- Não dá! Não existe isso.
- E se tivéssemos sido diferentes?
- Aí não teríamos sido nós. E é exatamente o que fomos que nos faz tão importantes um para o outro.
- Mas é isso que fomos que nos fez terminar.
- E é isso também que nos fez nos amarmos.
Silêncio.
- E você não me ama mais? – ela
perguntou.
- Mais do que tudo.- Então, e se a gente voltasse?
- Não vai dar. Não quero que nos tornemos nada. Preciso de nosso tudo pra continuar sendo quem eu sou.
Silêncio.
- Eu te amo. – ela disse engasgada.
- Eu também te amo.
E lá estava ela, com suas sacolas e
respostas esperando o próximo ônibus passar. Atrasada. A ceia já posta. A
família esperando.
E se ela não tivesse descido do
ônibus ?
(Lara Gay)
6 comentários:
Lindo, lindo Lara.
esse 'se' perturba. a dúvida de um possível sim - clarice disse que universos começam com um sim, e agente fica assim: desejoso de universo.
"E se não houvesse amanhã?
E se fizéssemos acontecer?
E se não foi, não era pra ser."
Incrível, Larinha! Você se supera a cada texto. Parabéns, parabéns e parabéns! Espero um dia ter 1/3 desse seu jeito de brincar com as palavras. Rs!
Um beijo! ♥
Ainda bem que ela desceu!! (:
Nossa, q lindo!! Confesso q vez ou outra dou uma passadinha aqui, cada coisa linda q vc escreve.
Se não tivesse lido, não teria sentido.
E se... deveria ter sido como foi?
Lindo texto, amiga!
Depois passa lá no meu CADERNINHO DE RABISCOS ;)
http://andressale.blogspot.com.br/
Beijos, flor!
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